quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cabou, mas lá vem mais...

Uns devem estar levantando as mãos para os céus, outros lamentando o fim, e, para alguns, nem uma coisa, nem outra, muito pelo contrário! O fato é que lá se vão mais 365 dias. Aproveitou? Acho que consegui curti todos, aproveitando o que tinham de melhor: trabalhei para caramba, vi muitos shows, filmes, resolvi escrever mais, criei o blog, participei de caminhadas em prol de alguma coisa, retomei minhas aulas de conversação de inglês e comecei as de photoshop, acabei uma especialização, tentei na cara e coragem uma vaga no Folha de São Paulo, conheci gente, fiz novos amigos, tive novos amores e amantes, comecei relacionamentos, terminei outros, reforcei laços de amizade! Ufa!! Mas nem tudo foi alegria, também perdi amigos e parentes. É da vida, não?

E semana que vem se inicia tudo de novo: as novidades e expectativas de um recomeço. Tu-di-nho do ze-ro. Tá, nada impede de recomeçar a qualquer dia do ano. É sempre bom rever o que não deu certo e tentar de outra maneira, a qualquer momento, mas o ano novo dá às novas chances aquele gostinho especial de dessa vez vai dar certo. Gosto dessa idéia de sermos responsáveis pelo movimento da vida. Creio nisso! E essa brincadeira vem embutida na animação do reveillon! E para o ano que vem, vida nova sob todos os aspectos aqui ou em qualquer lugar, fazendo sempre o que se julga ser o melhor, sem agredir ninguém, principalmente, a si mesmo!

Feliz ano novo, amigos. Que 2008 seja O ANO para todos nós!

Imagem: Banco de imagens Google

domingo, 23 de dezembro de 2007

Nada de sapatinhos na janela!

Poucas datas considero tão comerciais quanto o Natal. E o encanto desse dia perdeu seu brilho há mais de vinte anos quando minha avó faleceu 3 dias antes do Natal de 85. As coisas voltaram a ser um pouco interessantes depois do nascimento de Gabriel. Por ele se validam os esforços: fazemos ceia, amigo secreto, ficamos todas e casa. E de quebra, mãe também fica contente.

E, como diria alguém essa semana, ainda temos que agüentar aquelas pessoas que nos sacanearam o ano todo dizendo: "boas festas pra você e sua família!". Que grandes filhos da mãe!! E nem comentei os pobres mortais nas lojas usando aqueles gorrinhos, vestidos de vermelho, no começo do verão, um calor da muléstia! Eu hein!!


Gosto mesmo é do ano novo! As expectativas. 365 chances pra tentar de novo, fazendo igual ou diferente, sei lá! Ver o que deu certo e o que não vamos fazer novamente nem com uma faca no pescoço!! E vem a tal da novidade! O que nos espera nesse ano que chega. Gosto dessa sensação.


Sigo o velho ritual de usar tudo novinho pra chegada do ano. E, como o lado sagrado também fica forte, preciso estar próximo da água: especificamente da praia. Isso é pra que a maré leve tudo o que não deu certo e traga o que tiver de novo aprendizado, acompanhando seu movimento.


Agora é esperar todas aquelas coisas que todo ano aparece: jogo de búzios, cartas, previsões de todo tipo. Ah, tem também aquelas listinhas (que podem ser frustrantes quando se consta que quase nada foi cumprido!). É até uma maluquice divertida!


Que venha então 2008 com todo divertimento, aprendizado, trabalho, amor e grana (que, aliás, facilita muita coisa, né não?!)!

Imagem: Banco de imagens SXC

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Domingo no parque

Nossa que semana! Não consegui escrever uma linha. Faltaram as boas idéias, mas principalmente a vontade de olhar pra uma tela depois de passar um dia inteiro olhando pra outras! Enfim, domingão: zoinhos descansados e muita coisa na cabeça pra despejar aqui. E o dia foi assim: relax. Minha irmã caçula e eu pegamos nossos sobrinhos e fomos curtir o show de Paulinho Moska, ou simplesmente Moska, no Parque da Cidade.

Era o último show do ano. O parque tava lotado! Aproveitando que o calor deu uma pausa, muita gente aproveitou o divertimento gratuito. Bacana ver muita criança grande se esbaldando com crianças um pouquinho menores (incluindo essa que vos escreve!). Compramos cata-ventos e corremos pelos castelinhos. Gabriel e Bleno, como quaisquer crianças de 5 anos, tinham fôlego de sobra. Só pararam mesmo pra um lanchinho (muito rápido, afinal não podiam perder tempo com essas coisas miúdas!).

E assim passamos umas 3 horas, mas pra eles, me deu impressão de ser uns cinco minutos. Ainda assim, acho que valeu. Fiquei pensando em outras crianças que não desperdiçam seu tempo com esses passeios. Que ao menos têm tias, tios, pais ou quaisquer responsáveis pra dar um break em suas agendas e revisitarem aqueles castelinhos (sim, porque todos os soteropolitanos que tiveram infância conhecem aqueles castelinhos!).

Curti bastante esses momentos com minhas tias e mãe e pai quando era possível. Acho que são momentos importantes e muitas vezes fazem a diferença entre os meninos que engordam as estatísticas da polícia e os demais que pensam um pouco antes de enveredar por caminhos duvidosos. Casos como o que vi semana passada no jornal. Um garoto de 13 anos acertou uma faca no pescoço de outro de 15 porque se sentiu ameaçado. Ele pensou, planejou e executou tudo. O crime aconteceu dentro de uma escola estadual aqui no subúrbio.

Não consigo entender o que se passa na cabeça dessas crianças hoje! Porque são tão agressivas! Em parte, acredito que lhes falte um domingo no parque, brincando com cata-ventos. Acredito que lhes falte alguém contando estórias de seu super-herói predileto. E nessa atual conjuntura, parece haver uma conspiração: o ensino, seja público ou particular, há muito chutou a qualidade pra escanteio. Nas instituições do governo, os meninos que têm aula às 13 horas, retornam às 15. No ensino particular, se você não pode desembolsar uma boa grana, seu filho se torna um robozinho. E ele que ouse ser um tantinho mais criativo que os demais!

É um fato. Os tempos são outros. Compreendo a correria, os afazeres, as contas que não esperam, entretanto, esse fenômeno, essa violência gratuita que nossas crianças experimentam merece atenção. É como tudo na vida: cuidar bem no comecinho, cuidando bem da semente pra que a árvore ofereça bons frutos!

Imagem: Banco de imagens SXC

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Minha grande família

Esse vai ser bacana escrever. São quase duas da manhã e acabei de voltar de uma farra! Plena terça-feira (quer dizer, não sei quem inventou dia específico pra fazer farra!). Bom, de fato, agora já é quarta. Pois bem, ontem foi aniversário de mãe. 57 aninhos. Oras vivido intensamente, outras vezes nem tanto.

Desde semana passada minhas irmãs e eu pensávamos no que fazer já que estaríamos todas as “pionas” trabalhando. Ela, como costumeiramente não foi pro serviço. Faz isso desde que me entendo por gente. Disse que não queria nada, só as crianças em casa até o horário de cada uma sair pro trabalho. Deu banho em Rafão (nosso pastor alemão), lavou roupas, atendeu um monte de telefonemas, conversou com o vizinho, cuidou de Angélica e Gabriel, “tudo sempre igual”. Eis que chegou o pretendente a genro, uma tia minha e foi suficiente pra mãe mudar de idéia. Já queria saber a que horas cada uma ia voltar além de meu pai. Resolveu que íamos sair à noite.

A noite foi muito boa e acho que bastante significativa pra ela. Rimos, nos divertimos. Tudo bem família como ela gosta. Nem sempre foi assim. Fiquei pensando como minha relação com minha mãe mudou. Especificamente falando. É que minhas irmãs tinham/têm uma maneira muito fácil de lidar com minha mãe. Obedecem e pronto. Eu não. Quase sempre batendo de frente. Brigávamos muito. Minha relação maternal sempre foi muito bem resolvida com minha avó, mãe dela. Era pra ela que corria quando chegava da escola. Até porque minha mãe quase nunca estava. Trabalhava para sustentar a nós três. Cobrei muito, mas com o tempo compreendi isso.

Às vezes olho pra ela e percebo uma certa tristeza no olhar: distante. A idade, os problemas de saúde, as noites mal dormidas, a decepção com a polícia, corporação pela qual entrou apaixonada. Por vezes parece que minha mãe perdeu o brilho. Mas essa noite não. E foi tão fácil. Era só um pouco de atenção. Me senti bem ali naquele momento. Acho que todos nós. Foi uma festa. Uma festinha particular pra dizer o quanto ela é importante pra nós. É que às vezes, com tanta coisa, a gente se esquece!

Fico pensando no passar do tempo. Coisas que nos machucavam antes, hoje não fazem o menor sentido. Outras que é preciso somente ter. Pensei novamente na facilidade que foi deixar as mágoas e tristezas no passado. Nosso relacionamento parece afinal ter encontrado um rumo. E eu me sinto bem com isso.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Sempre torcedores

Gosto de futebol desde que me entendo por gente. Lembranças das tardes com meu avô quando depois de todos os afazeres parava para “apriciar uma bolinha”. Não lembro se tinha um time predileto, mas a torcida forte era mesmo pra seleção brasileira. Tomei gosto em ver vinte e dois malucos correndo atrás de uma bola e mais uma galera em casa e nos estádios gritando. Torcedora (e claro, sofredora!) do Bahia, não sou nenhuma fanática, curto mesmo é a bagunça, a farra. Contudo, entendo seu mecanismo social: distrair de questões mais profundas.

Há uma semana sete pessoas morreram, despencando junto com parte da Fonte Nova, maior estádio em Salvador (não sei se do estado). Todos os olhos voltaram-se para capital e alertaram para as condições dos estádios pelo Brasil. E por que essa preocupação? Porque inventaram uma copa pra nós em sete anos. E agora a correria é geral: reestruturar estádios, repensar meios de transporte e segurança e outras coicitas más.

Sinceramente acho uma loucura essa copa em 2014. Outros países devem estar melhor preparados para ser sede do campeonato. Não acompanhei o desenrolar da escolha e não entendi porque só o Brasil foi candidato. De mais a mais, fazer parte do melhor time do mundo é bom pra Kaká, Robinho, Júlio César e Ronaldos (suas contas bancárias agradecem cada vez mais). Na prática não tenho (nós não temos) nada a comemorar!

Mas daqui continuo torcendo: torço pelo dia em que se pense em investir mais em escolas que em estádios de futebol. Pelo dia em que se possa garantir o direito de ir e vir do cidadão que vive na cidade sempre, não somente pra inglês ver. Torço pelo dia em que as pessoas possam sair de suas casas pra (também) ver o jogo, mas não tenham que esperar pelo transporte público sucateado. Se é pra torcer, que seja pelo menos por nosso benefício!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Melhor idade? De quem é esse conceito?

Sou do tempo em que qualquer assento era assento dentro do ônibus. Não era necessário um banco amarelo, vermelho ou estar escrito lugar reservado para quem quer que seja. Minha mãe sempre nos ensinou a ceder o lugar para pessoas mais velhas, gestantes e deficientes. Algumas passagens essa semana me fizeram pensar no raio de tratamento que estamos dando aos nossos velhos.

Na terça fui ver um lançamento de livro e filme no Teatro Vila Velha. O livro tratava da história dos grupos formados no Vila e o filme Esses moços. Há muito queria assistir. Demorei tanto que saiu de cartaz. A estória é sobre um velho confuso entre o que é passado e presente. Após fugir do abrigo, ele encontra duas menores. As meninas, irmãs que resolveram fugir de sua casa no interior da Bahia, fugir de sua mãe e decidiram morar nas ruas da capital. São muitas as temáticas trabalhadas no filme, mas por alguma razão me apeguei a esta: a maneira como as pessoas são vistas quando a velhice (e seus problemas) vai se aproximando.

E não precisamos de ficção. Diariamente os jornais noticiam os abusos que muitas vezes são cometidos pelos próprios parentes ou pessoas próximas: final de outubro os jornais locais na TV mostraram o assalto acontecido na casa de um senhor de mais de cem anos. Com dificuldade em ouvir, demorou em compreender as ordens dos marginais. Foi agredido e estava bastante machucado. Semana passada um outro senhor, de pouco mais de oitenta anos, apanhou de sua esposa, de vinte e poucos. E, segundo a delegada, essa não era a primeira ocorrência deles.

Ah, claro não podia faltar um episódio. A mãe de um dos meus tantos chefes sofreu um Acidente Vascular Cerebral (derrame) há umas três semanas. Ficou hospitalizada, recebeu alta e hoje se recupera bem com os paparicos de filhos, netos e amigos. Os cuidados passaram a ser bastante especiais e também por isso bastante caros. João (o chefe) descobriu que a pensão de sua mãe fora anulada. E (por favor, pasmem!!) nosso eficiente Instituto de Previdência avisou que só suspenderia a o cancelamento se ela fosse levada até a agência.

E como pode ser isso? Ela está se reabilitando. Uma saída dessas podia ser bastante comprometedora, desastrosa até! É inconcebível que eles não possuam agentes capacitados a visitação. Depois de muita indignação que fazer? Meu chefe foi obrigado a levar sua mãe a uma dessas agências para comprovar que estava viva.

Em que tempo alguém podia pensar numa delegacia especializada para idoso? É preciso haver demanda para se adotar tal passo. E, infelizmente, há. Não consigo entender essa violência, sobretudo dentro da própria casa. Sempre tive uma relação muito especial com meus velhos: tios, avós, amigos. Suas experiências são sempre referência.


Mais que a dor física, creio que a dor da humilhação seja mais difícil de cicatrizar, de lidar! Repensar esse tratamento, particularmente na atualidade em que a expectativa de vida vem aumentando, é válido. E vamos (re)educar melhor nossos meninos pra que possam compreender o que existe de tão especial quando aqueles famosos fios brancos começam a surgir nas cabeças alheias. Afinal, serão eles a cuidar dos adultos de hoje.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Lidando com perdas

É o primeiro texto que não sei como começar. Preciso me despedir de um amigo. Pra variar, de um amigo que não falava há uns meses. As despedidas sempre foram muito complexas para mim. De todas as ordens.

Abri minha caixa de emails ontem e havia um de Claudinho. Na verdade a mensagem era de sua irmã. Dizia que ele esteve hospitalizado e falecera no sábado, dia 24. Minha primeira reação foi de susto! Como assim? Claudinho estava sempre aí, brincando, entrando no msn, soltando suas piadinhas assanhadas e suas beijocas (sempre nos despedíamos assim nos bate-papos e emails).

Depois vieram as lembranças da faculdade. Deixara o curso de Relações Públicas e optara por jornalismo. Nem sei qual semestre era aquele. Só sei que pensei: “ai Deus, mais um maluco aqui na sala, como se não houvesse o suficiente!”. Os meses foram passando e a convivência entre as mais de 30 cabeças diferentes numa sala de aulas por vezes ficava complicada. Não lembro se fizera questão de esconder sua homossexualidade. A mim nunca fez diferença, mas como coloquei, tinha bastante gente na sala. Por vezes o clima ficava tenso e as piadinhas rolavam.

Sempre nos divertimos muito contando nossos causos amorosos e estórias (às vezes mais picantes, claro!!), curtindo da cara de alguém. Era uma dessas figuras que mesmo estando triste, estava feliz! E como alguém assim pode morrer?

Dois anos atrás, outra amiga da faculdade falecera. Manuela. Manu da Varig. Tinha desistido do curso de jornalismo, mas algumas meninas ainda mantinham contato com ela. Segundo elas, estava bem. Recém-casada, fazendo outra graduação. Lia o jornal e reconheci seu nome na seção de falecimentos. Tão meiga. Lembro da relação dela com a mãe: um cuidado muito especial.

Ainda semana passada perdi um tio. Tio César era uma dessas figuras amigas de pai e mãe que viu a gente piveta e acompanhava pro resto da vida: almoços, aniversários, formaturas. Minhas lembranças dele são sempre de farras: com a gente nas barracas de praia, pedindo tudo pra nós três e Paulinho (seu filho). Tinha diabetes, pressão alta e estava acima do peso. Estava bastante doente e um dia decidira não usar mais remédios. Fiquei muito triste. Meu pai não quis contar logo. Todas soubemos dias depois...

Não saberia dizer o que de fato me incomoda na morte. Não é simplesmente o não ver/estar mais. Talvez seja o fato de ser a única coisa da qual não se pode fugir. Acho que é essa sensação de completa incapacidade que me angustia. Até hoje sinto falta de minha avó. Sob efeito mais ameno, claro. Lá se vão mais de duas décadas de sua partida. Tínhamos uma relação muito próxima. Era ela praticamente a minha mãe.

Existem algumas pessoas que não gosto nem de pensar em perder. Muito embora, hoje encare esse dia com um pouco mais de naturalidade (ou menos desespero!). Afinal, não há muito o que fazer. E pra desfazer qualquer dor, só mesmo o tempo.

Para o amigo Cláudio Conde, para a amiga Manuela Bastos e para tio César.
Muita luz e paz!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ponha a alma em tudo que faz

Aprendi a mergulhar de cabeça em tudo com o entusiasmo das crianças. Logicamente corro riscos que me fazem pensar em ser mais cautelosa numa próxima vez. Mas, só penso. Afinal de que vale viver receosa de tudo e todos? Tamo vivos no mundo, vamo viver, oras! Já pensaram na tragédia que seria nos fecharmos a cada coisa que não saiu como planejamos (se é que se pode prever tudo na vida)? Conheço pessoas assim: se sair uma vírgula do esperado, do que fora calculado, tá feito o drama. Também conheço outros de minha laia. Sempre se jogando: amor, amizades, trabalho, o que vier.

Na segunda fui ver (mais) uma exposição de fotos de meu companheiro Marcelo de Trói. Celo dispensa comentários ou reiterações a respeito de seu talento (em tudo que faz). Quando o conheci, ele estava editor de um suplemento que eu diagramava. Depois conheci o fotógrafo, o ator, o poeta, o instrumentista, o roteirista, o produtor, o jornalista, o humanista, o escritor (tô sem fôlego e tomara que não tenha esquecido nada!). Às vezes me pergunto a que horas essa criatura dorme, gente!! Logo também conheci o homem, o amigo, o companheiro. Em todas essas “funções” ele está de fato. Corpo, coração e – sobretudo - alma. Celo é dos meus e a gente se compreende cada vez mais.

Também tenho escutado bastante Bob Marley. Vejo algumas apresentações e comentários sobre sua obra. É unânime: era mais um da casta. Ele acreditava na causa e não media esforços nem desanimava à toa. Suas letras tratam quase sempre disso. Não desanimar da luta, não desistir! Nem é preciso ir tão longe. Alguns dias atrás conheci Lazzo Matumbi. O negão é show de bola! Nem precisamos conversar muito pra eu reconhecer nele mais um destemido nato. Suas idéias e ideais. Acreditava com paixão no que vale à pena: tudo na vida!

Penso nessas pessoas que gastam um tempo danado com as variadas maneiras de sentir receio, mas cada um no seu momento. Nem sempre fui assim também (ainda bem que a gente cresce!). Nosso tempo é curto e não dá pra ficar perdendo oportunidades assim à toa. Se acredita, arrisque, experimente, se jogue meu velho!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Novidades cotidianas

Todo começo de relação não é uma delícia? As diferenças são divertidas, as pequenas brigas (sim, porque no início, são sempre pequenas). As reconciliações melhores ainda: ardentes, criativas, memoráveis. Tenho escutado bastante de amigos a mesma velha história: de como as coisas deixaram de ser encantadoras. Eu não sei. Sou meio suspeita e a mim parece sempre mais fácil pra quem está de fora (como no meu caso). Creio que a dificuldade é simplesmente em não encontrar a novidade que nos cerca no dia a dia. Na realidade sequer se busca essa novidade e ela existe! E não se iluda, ninguém gosta de mesmices! Pense que é uma questão de lógica: se um dia é diferente do outro é porque algo que não estava ontem, hoje se faz presente e é aí que a coisa nova entra.

Também não creio na tal felicidade eterna. Tô muito mais pra outro libriano fantástico que dizia: “... que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure..!”. É... Vinícius bem vivia o que pregava, afinal foi casado nove vezes pelo que consta! Penso que mais que fidelidade (que no frigir dos ovos nem é tão importante) as pessoas devem ser leais umas com as outras quando se trata de relacionamento. Sobretudo a dois. O importante é o estar de coração, mente e alma. Do tipo coisas do mano Caê: “...não importa com quem você se deite, que você se deleite seja com quem for...”. Venho firmando essa idéia de esteja comigo quando eu precisar meu bem, e por mim tá tudo certo. Deveria funcionar. Me parece que as pessoas seriam mais felizes, no mínimo sofreriam menos com cobranças!

Meus amigos dizem que idéias como essa que fazem os carinhas correrem léguas. Sou mente aberta demais! Mas precisei aprender essas rotas alternativas pra ficar bem em cada relação (e, principalmente, ao final delas). Em todas: amizades, família, amores e amantes. E, afinal, é uma questão de cuidado e respeito com o outro. Quando um só desses alicerces se acaba ou se quebra o melhor a fazer é partir pra outra.

Na deliciosa onda da Estação Melodia

Faço queixas de cansaço, resmungo às vezes, penso em dar um tempo, mas a verdade é que adoro essa minha vidinha corrida. Vez em quando – quase sempre -, queria ser um pouco mais disciplinada, assim, organizar melhor meu tempo. Muito embora, seja essa indisciplina que me permite dar boas escapadas. Esses dias, em meio a um fechamento complicado de um jornal de 4 páginas, me dei de presente parar e ir ao show de Luiz Melodia (salve, salve, amém!!!). E ainda bem que o fiz.

Era a primeira vez que via um show de Melô. Foram duas apresentações. Queria ir no sábado, mas os ingressos se esgotaram rapidamente. A mim bastava que ele cantasse Fadas e Estácio. E ele cantou. E, lógico, divinamente. Aliás, o espetáculo todo foi maravilhoso! E não são só palavras movidas pelo velho encantamento da primeira vez: meu amigo, companheiro, editor, Marcelo de Trói, macaco velho de Luiz Melodia disse ter sido o melhor show dele que tinha visto. Agradeceu um monte por tê-lo seqüestrado!

E não podia ser diferente. Melô trazia a vitalidade de um garoto em cada canção. Brincou, dançou, conversou, saldou Lazzo Matumbi. Se divertiu com os músicos (um capítulo à parte do show) e com os gritinhos mais entusiasmados da platéia. Estava lançando um novo disco, Estação Melodia com interpretações de clássicos do samba dos anos 30, 40 e 50. No final, Melô e os músicos desceram até a platéia e simularam uma concentração de escola de samba. Ali, pertinho do público ele sambou e fez todo mundo se acabar cantando “linda teresa, linda teresa...”. Transformou a sala principal do Teatro Castro Alves em Concha Acústica. Era a primeira vez que desejava um celular com câmera!

Ah, claro, antes dele subiu ao palco Pietro Leal e seu grupo (com nome esquisito), vencedores do terceiro lugar do Festival Universitário de Música. Presença de palco, repertório, as letras autorais, segundo eles, não deixava nada a desejar a grandes nomes locais. Os meninos são realmente muito bons. Um show pra ficar na memória até o próximo!

Celo te amo!! Obrigada pelo companheirismo de sempre!!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A cor acentuada pelo calendário

Ainda lembro aquela tarde sentadas na varandinha. Pró Geninha e Guida me diziam: “aproveite tudo porque ser negro, hoje, é mercadológico!!”. Lá se vão mais de quatro anos. Faz tempo, mas a constatação é bastante atual. Não saberia dizer ao certo qual era a discussão. Mas, com certeza me referia ao fato de ter assumido, por vez, meus traços étnicos. Embora não fosse uma militante fervorosa (e ainda não o seja), percebi que devia ir muito além que trançar meus cabelos à jamaicana ou, como hoje, aplicar os dread locks, como Marley.

Também falava de minhas intenções para o mestrado. E, de novo como Marley, queria abordar minhas raízes, trabalhar minha história. Me utilizaria então da arma que conheço melhor e a qual considero inegavelmente a mais poderosa de todas: o conhecimento. Queria mostrar a força de pessoas como Yêdamaria, amiga, artista plástica, reconhecida no exterior (aliás, mais lá que cá), negra, do interior da Bahia. No início da pesquisa para o projeto, o primeiro grande obstáculo: não existe bibliografia específica. É como se nós negros, nessa que dizem ser a maior cidade negra fora de África, fizéssemos muito pouco, nada que merecesse estar fora das páginas de polícia ou situação de mendicância.

Minha indagação não era onde ou em quê pesquisar somente. Não teria problemas em “construir o caminho”, mas me perguntava por que éramos constantemente ignorados. E aí lembro de ter visto um outdoor. Chamava para a caminhada do dia 20, com saída, lógico, da Liberdade. Pois é... E lá vamos para mais um vinte de novembro. Pretos e pretas nas ruas reivindicando no grito! Já estive. Mas as figuras que fazem da marcha um palanque eleitoral me tiram do sério! E como ano que vem teremos eleições municipais, imagina o que não vai ser.

Há duas semanas estou envolvida num projeto de comunicação para o dia 20, em Camaçari, cidade da região metropolitana. Nas discussões um tema é recorrente: a data. Explico: por que somente dia 20 de novembro saímos em protesto? Nossas crianças negras, no ensino fundamental, precisaram de uma mãozinha da justiça pra terem sua história incluída na grade do planejamento de aulas. A briga é boa e os resultados ainda são aguardados. E meus questionamentos não paravam por aí. Por que com a ascensão da política de cotas nas universidades, todo mundo resolveu ser negro? Por que na alta estação, quando a cidade fica lotada de turistas, se incentiva uma tendência aos chamados penteados afro como mera fantasia? Por que esse é um mês no qual todo mundo decide discutir em seminários, em palestras e arrisca aplicar receitas de bolo ao nosso cotidiano? Por que as tais secretarias ou mesmo coordenações especiais de políticas e promoção de igualdade racial não engatam?

Eu quero é que durante o ano inteiro alguém me explique, aliás faça melhor, quero que alguém solucione essa condição louca que é um trabalhador negro receber o equivalente a metade do salário de um trabalhador branco,ocupando exatamente a mesma função, com as mesmas qualificações. Quero que alguém explique por que nos noticiários de Tv as (raríssimas) apresentadoras não usam tranças ou dread locks? Seus cabelinhos são tão lisinhos alguns com luzes loiras! Me salve Rita Batista com seu estilo black power na Tv Aratu. Alguém pode me dizer que zorra de 1% é esse a que ganhamos o direito para aparecer nos anúncios e propagandas? No finalzinho da peça? Dando tchau? Sacudindo ou sempre mudos? Não quero pena, esmola. Sequer gosto da palavra reparação!

No meu caso específico não precisei diretamente da ajuda do governo. Nunca estudei em escola pública, minha graduação e especialização também foram em instituições particulares. Talvez aconteça agora com o mestrado. Sou a famosa exceção à regra. Entretanto, já bem próximo, minhas irmãs seguiram o que se vê: entraram num colégio público no segundo ano do segundo grau. Tinham as aulas iniciadas às 7h e antes das 10h já estavam em casa. Isso entristecia bastante minha mãe que nunca mediu esforços para nos proporcionar conhecimento. Era questão de honra na cabeça dela e, pelos incentivos, ainda se mantém.

E numa dessas palestras, ouvi uma vereadora, bastante requisitada no assunto, dizer lá pelas tantas que a escola pública hoje é feita para pobres. Em boa parte dessas instituições o descaso é pulsante e julga-se que o pobre não merece nada de qualidade, afinal, não vai sair dali mesmo. Não era a visão dela, mas explicitava como o sistema funcionava. Que engano! Somos tão capazes quanto afinal, somos nós que matamos um leão por dia pra sobreviver e ressaltar nossa habilidade... E tem sido assim desde o dia 14, (o dia do e agora) quando fomos empurrados às ruas. Ao menos paramos de comemorar o dia anterior, como se aquela assinatura fosse um favor!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Do jeito que a gente também gosta

Essa é uma semana completamente atípica. Ainda que atolada de trabalho - graças a Jah -, consegui participar de uns eventos gratuitos que rolaram na cidade. Comecei no domingo: Show de Lazzo Matumbi. PER-FEI-TO!! Fazia algum tempo que não o via. A voz dele tem um quê de força e sensualidade. Uma energia boa e uma animação vinham de Lazzo e da platéia. Tiro por mim, tava com toda disposição pra dançar por 4 horas se ele quisesse (e pudesse!). Convidei, sem muita insistência porque não era preciso, um amigo pra conferir o metro quadrado mais preto no Parque da Cidade. Lindo! Estávamos ficando tontos com tanta gente bonita!!! Eu aguardava ansiosamente "do jeito que seu nêgo gosta" e "alegria da cidade", sempre as mais pedidas. Surpresa deliciosa foi ele cantando Melodia e Roberto Carlos. Pouco mais de duas horas de show. Que maravilha!
Chegando final de ano, turistas pendurados nas árvores, o calorzinho ajuda a dar uma sacudida na programação cultural da cidade. Até aí, sem novidades, afinal a gente nem combina com outra estação que não o verão, mesmo. Mas voltemos, porque nossa agenda tá ótima. E não é que na segunda fui ver 3 filmes pagando 2 reais por seção?! Projeta Brasil na Cinemark. Na real, não deu pra ver os 3, esqueci que tinha aula. Ao menos os escolhi. E não é só isso: Tem teatro. Na quarta sai em passeata divulgando peças em cartaz, a preços bastante populares, pelos cantos da soterópolis. Era o Festival Nacional de Teatro da Bahia. Até o dia 10, tem muita opção boa e barata pra ver. Se a gente pensar, nem o que é gratuito é de graça, se permitem o trocadilho. Sim porque na realidade não é de graça. Você paga, ao menos, as passagens de ônibus, combustível ou ainda, a água de coco (que nesse calor, é o que nos salva!).
O que ocorre é que temos sempre alguma coisa a preços populares à disposição, mas são tão pouco divulgados! Consumidora compulsiva de eventos gratuitos ou mais acessíveis, posso garantir que quando chamados, comparecemos em massa. Afinal, como já diria Arnaldo Antunes, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte/ a gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor!".

sábado, 3 de novembro de 2007

Tripulação de primeira viagem

Ainda lembro daquela bomba caindo bem no fim do meu dia. Estava no terceiro semestre do curso e estagiava na editora da própria faculdade. Minha irmã tinha passado muito mal pela manhã o que lhe custou não ir fazer a segunda prova do vestibular da Ufba. Quase seis horas e recebi uma ligação. Era minha irmã caçula: “você já está saindo?”. E eu: “sim. Iza melhorou?”. Ela, naquele tom irônico de sagitariano: “é... mas a enxaqueca dela só vai passar daqui uns meses...”. Eu, no meu tempo costumeiro: “como assim?”. Ela jogou: “sua irmã está grávida!”.

Hoje, relembrando a situação toda até rimos (sem mãe, lógico que continua não achando graça alguma, apesar de Gabriel tê-la no bolso). Foi um corre-corre. Morávamos no mesmo apertamento desde que éramos meninas. Nos habituamos mas, agora mulheres, mal cabíamos todas. O piso ainda coberto pelo velho carpete verde há mais de uma década, nada convidativo a um bebê. Mudamos para uma casa, afinal não tinha espaço para um berço e tudo mais que ele precisava. Era a primeira grande modificação concreta que Gabriel impunha.

Digo concreta porque nossas brigas e discussões foram ficando cada vez menos freqüentes. As desavenças sem sentido. Tínhamos em mente que uma figurinha ia precisar muito (e tão somente) de nós. E ele estava à caminho. Minha irmã trabalhou até muito próximo ao dia do parto. Até onde aquela barriga enorme permitiu. Toda a família era só paparicos, afinal as tantas mulheres da linhagem tinham resolvido estudar e trabalhar. O último rebento do ninho tinha nascido uns dez anos antes e era do meu tio.

Aliás o esforço de minha irmã-mãe era um espanto secundário. Sim porque a grande surpresa era a gravidez em si. Era a única de nós que jamais (e olha, eu disse jamais!) falou em ter filhos. Corria quando alguns daqueles meninos todos (que, nunca entendi, insistiam em ficar lá em casa) apareciam. Adorava as farras e pagodes de finais de semana... As voltas do mundo! Coisa estranha pode ser a vida algumas vezes. Eu tinha perdido um bebê cerca de três anos antes num aborto espontâneo.

Enfim, chegou o dia (ou melhor, a noite). Lembro de ter corrido a cidade por algumas horas procurando vaga nas maternidades com meu pai naquele final de setembro. Fui buscar no hospital com todo orgulho de tia. Aqueles exames imediatos me trouxeram o primeiro nó à garganta. Já fomos direto pra casa nova. Os dias que se seguiram eram marcados pelo revezamento. Até não trocou muito a tal noite pelo dia, mas para toda ameaçazinha de tosse, choro ou coisa que valha, tinha alguém de prontidão!

Fotos, fraldas, comida, presentes, visitas (e mais presentes!). A primeira grande queda aos seis meses. Aliás, por que diabos eles fazem isso? E só de cabeça? Que susto! (e, diga-se de passagem, que pulmão descobrimos com aquele choro agudo).TODAS EM PÂNICO, acordadas! E, principalmente, sem deixar ele dormir. A vó dizia que podia fazer mal. Crendice popular? Pode até ser, mas quem arrisca? A febre de 40. Chamamos ambulância. Aquela bendita médica aperta o coitadinho daqui e dali. Quase a gente voa naquela veiazinha visível do pescoço dela!

Eis que aí está. Com as famosas janelas (sem os dentes da frente).Cinco anos de muito trabalho, pânico e alerta, enfim, tudo que envolve o crescimento. Rimos das coisinhas do dia a dia. Suas descobertas, birras e manhas se tornaram recorrentes em meus trabalhos – textos, pesquisas e discussões – e bate-papos com amigos. Na verdade, todos (re)aprendemos muito e é tão gostoso vê-lo esticar e hoje olhar pra minha cara e dizer: “ei xará vai assistir pica-pau comigo? Se não, eu não sou mais seu amigo!”. Eu posso? Outro dia que deixou de falar o L no lugar do R!

Fico preocupada com o bolo de namoradas se formando na porta, o dia do braço quebrado ou pior a convocação do exército! O fato é que essa convivência tão próxima, essa espécie de treinamento vai me deixando preparada para algumas coisas. Uma delas seguramente é o momento em que a tia coruja cederá lugar para a mãe que, sem sombra de dúvidas, será igualmente babona, mas, por certo, mais atenta e menos impressionada.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A vaquinha indo pro brejo

Queria entender essa falta de cuidado com o próximo algumas vezes. Me consola saber que algumas pessoas – e aí, me incluo em parte – ainda contrariam as estatísticas das personas non gratas. Umas coisinhas aparentemente simples, lá na frente, representam muito. Ensino Gabriel, Angélica e até minhas irmãs a guardar em jornal cacos de vidro, por exemplo. As latas abertas devem ter aquela parte do corte dobrada para dentro e também embaladas em jornal. O pensamento é simples: infelizmente ainda tem muita gente revirando lixo. Sem contar que nem sempre os catadores estão devidamente protegidos. O que ainda não consegui foi implantar a tal da coleta seletiva.

De quando em quando me sinto vivendo uma trama de novela. Já se sentiu assim? É espionagem industrial daqui, sabotagem de lá, homicídios com motivos banais, total inversão de valores. Coisas que dão sentido a ditos populares do tipo farinha pouca, meu pirão primeiro. Na última semana fomos surpreendidos com as fraudes no sagrado leite nosso de cada dia. Casos de queijo reembalados em função da data de vencimento também vieram na carona.

Que loucura é colocar vidas em risco desse modo! Por mais que as autoridades digam que a quantidade de substâncias proibidas (esse conceito é ótimo, não?!) não representa perigo à saúde. Mas a essas alturas, quem acredita nisso? Tudo isso no sudeste (Minas e São Paulo, respectivamente). Até onde se pode ir por dinheiro? Por aqui, dizem não ter encontrado nada e a toda hora sai nos noticiários a ação dos fiscais. O fato é que o consumo de leite e derivados caiu bastante em uma semana.

Na contramão desses lances um episódio aconteceu comigo. Ontem passei a tarde pesquisando no Instituto Geográfico. Pegando jornais mais velhos que eu. Estão em pastas pesadas e enormes. Com todo respeito, folheava páginas de A Tarde da década de 70. Numa dessas respeitosas manobras senti o pescoço. Que dor pavorosa! Não conseguia virar a cabeça normalmente pro lado direito. Desisti de continuar a pesquisa. E também já ia encerrar o expediente mesmo. Caminhei mais devagar que o costumeiro. Subi no ônibus. Logo quando sentei, botei a mão no pescoço e tentei virar de leve. Havia uma senhora sentada atrás de mim e se ofereceu pra massagear. Quase não vi quem era.

A cara de espanto das pessoas me fez pensar na falta de responsabilidade com o próximo. Em algum momento em nosso cotidiano esse descuido passou ser considerado normal. E assim vamos com tudo que nos cerca: as matas, a água, os animais. Já imaginou com que cara vai explicar pro seu neto que a baleia que ele vê no livro só existe ali?! Virou uma figura porque acabou.


Tudo bem, eu sei que corremos o risco de uma neurose. Mas acho que até se aplica. Se não, vejamos: essas modificações climáticas que trazem esse calor excessivo, derretimento de geleiras, a escassez de água potável - já é fato consumado - etc. A todos esses fatos pode se creditar a falta de cuidado com o outro, com o que nos cerca. Nos resta agora tentar correr contra o tempo pra salvar o que ainda é possível.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Alguém viu Amélia aí?!


Organizar, lavar, passar, cozinhar, arrumar, limpar e depois ainda checar se tudo está a contento! Fala aí, a jornada doméstica não é o conjunto de atividades mais injusto que se tem conhecimento? Eu nunca ouvi mulher alguma expressar (nem no seu dia mais louco de TPM): “ah, como eu adoro lavar louça!” ou “a melhor hora do meu sábado é quando pego aquela pilha de roupas pra passar. Me sinto realizada!”. Eu hein! Até pode ter tido alguma (sei lá, tem louco pra tudo), mas, seguramente, não nesse século.

Tenho lido sobre feminismo e movimentos feministas por conta do mestrado. Não sei se (só) por influência de minhas últimas leituras, mas agradeço a Bertha Lutz, Nísia Floresta e outras tantas pioneiras que desde os anos 30 brigam por espaço e igualdade de direitos e abriram os caminhos pra que eu possa escrever hoje. Penso que não é só deixar de cumprir as tais atividades quando possível, mas é uma questão de divisão de tarefas.

Aqui em casa, nosso suporte nas atividades nunca foi uma preocupação de minha mãe, muito menos nossa. Chegando da escola só tínhamos que tomar banho e fazer os exercícios. Quando fomos crescendo e as tarefas aumentando, mãe tinha que falar muitas vezes até uma de nós tomar a iniciativa, afinal não era costume. Até hoje é assim. Lembro que fiz um curso de prendas domésticas numa escola famosa aqui. Isso foi lá pros meus 10 anos, acho (alguém pode imaginar isso?). Eu achava um saco aquelas aulas, aquelas meninas. Os dias de pintura me relaxavam e a farra na cozinha era a parte boa das aulas.

A verdade é que eu odeio trabalhos de casa! Mesmo! De mais a mais não fui criada para isso. De uma família na qual as mulheres são maioria (e os poucos homens são uns paus mandados) sempre ouvi dizer pra me cuidar e estudar antes de tudo. E assim mantenho. Não deixo de escrever, ler ou pesquisar pra lavar banheiro. A menos que precise de inspiração ou esteja fugindo, empurrando um trabalho com a barriga até onde der (então quando achar um texto ruim pode sugerir uma pilha de louça pra lavar).

Para a figura com quem tive um relacionamento próximo ao matrimônio tratei de avisar: “meu filho, eu não sou dona-de-casa!” (nada de letrinhas miúdas no rodapé do contrato). Mas não é que até nisso eu dei sorte? Ele gostava de fazer. Não se incomodava nem com as piadas de nossos amigos. E ainda me dizia que tudo que eu tinha de fazer era manter limpo. Moleza!

Com o final da relação, todas as criaturas que conheci adoravam cozinhar pra mim e até achavam graça dessa minha aversão. Vez em quando eu até fazia uma gracinha, lavando a louça. Não é que eu não saiba onde é minha cozinha. Eu cozinho e muito bem (minha lasanha é MA-RA-VI-LHO-AS. Claro que sem modéstia!! ). O que me chateia é a repetição. Todo dia cansa, igual a tudo na vida!

Os tempos são outros e as atividades triplicaram para qualquer ser humano. Ainda bem que a tecnologia está a nosso favor: lava, seca, aspira, cozinha. Na carona, outra visão da sociedade, dos ditos papéis de cada um. Pesquisas já apontam o aumento de Amélios por aí.

Mesmo assim, o fato é que nós mulheres temos feito muito mais. Dentro ou fora de casa (e graças a Jah com muito mais tesão). E não é ótimo quando aquele projeto finalmente sai da gaveta e ganha asas? Não é bacana ouvir – depois de um tempão de preparo - que seu trabalho ficou legal? Aí dá até vontade de fazer um jantarzinho!

E como não podia deixar de ser, tudo tem um lado b. O aumento da pressão em nossas cabeças era uma questão de lógica. E eis que além de brilhantes jornalistas, advogadas, escritoras, fisioterapeutas, químicas, geólogas, professoras (e lá se vai), à beira de pedir um dia com 25 horas, a gente ainda tem que ser inteligente, bonita, magra, sexy e divertida? A conta dos sutiãs queimados... Ah, o preço dos tempos modernos!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Do pêssego ao maracujá (e sem traumas)

Dia desses minha irmã gritou lá da sala: “aí hein Rainha, já tá hora de começar usar RENEW!”. Eu, pronta e sabiamente respondi que não esquentava com essas coisas e que sempre passo por mais jovem que ela em qualquer situação. A filha da mãe, cara-dura é só um ano mais nova que eu. Bem pouco, podia ter ido dormir sem essa..!

Bem diferente de mim, ela sempre se preocupou com os tais efeitos do tempo. Mas quer saber? Pra que essa correria maluca se a lei da gravidade é certa e líquida? Botox, fios de ouro, levanta daqui, estica dali, tira, põe. Haja dinheiro (e coragem, afinal é um procedimento cirúrgico)! É uma pressão horrorosa! Não entendo o porquê de tanta preocupação, afinal a gente começa envelhecer desde que somos um óvulo invadido por um espermatozóide. E de repente, uns aninhos mais tarde, a coisa toda pode tomar uma proporção sem precedentes.

Já repararam as campanhas das empresas de cosméticos? Os produtos causam verdadeiros milagres. Um simples sabonete, um creme. Usados por algumas semanas eliminam marcas no rosto e mãos. Outro que usado por um período pode trazer, como efeito, um bronzeamento quase natural. Que tipo de droga pode estar contida nessa substância pra causar tal reação química no corpo?!

Eliminar estrias... Que sonho..! Essa eu queria ver. Tenho muitas!! Isso não existe. Atenuá-las, sim é possível. Sem contar os equipamentos que te “poupam” horas de academia. Mas aí, pro resultado ser perfeito, é preciso comprar um gel redutor, um pote não sei de quê, guia de alimentação e mais umas trocentas tralhas. Ora, me deixe! Pagar pra tomar choque, dormir lambuzada e comer só folha!

Não lembro de grandes preocupações com o efeito do tempo. Ao contrário. A partir dos vinte e cinco, acho, comecei ficar ansiosa. Sempre olhei as mechas grisalhas que apareciam nos cabelos de minha mãe e me perguntava quando chegariam as minhas, se iriam ficar daquele jeito tão perfeitas. Namorava cada fio branco que me nascia na cabeleira. Sempre se quebravam depois.

Claro que penso nas marcas de expressão que surgem no meu rosto, mas acho que a saúde deveria ser o principal nessa inquietação toda. Isso venho me cobrando. Não faço exercícios (adoro minha cama!), durmo cedo (nas primeiras horas do dia!), trabalho muito tempo sentada em frente a um computador, minha postura é péssima, quase sempre lembro de comer quando sinto fome (leia-se: quando estou morrendo de fome!). Aliás, falando nisso, adoro comer e não me esquento de bater um bom prato de feijão antes de dormir, não.

Ah, mas peraí, me dêem um desconto. Nem tudo é coisa errada no meu dia. Não sou fã de sanduíches, bolachas recheadas, bombons ou refrigerantes. Como frituras de caju em caju. Não curto muito carne vermelha (êpa, mas não significa dizer que não consuma nunca essas coisas). Se tiver algo a fazer num prédio, até o terceiro andar, subo e desço as escadas (estando de tênis vou até mais longe). Adoro alimentos integrais, frutas e saladas. Tomar café é uma raridade e odeio qualquer tipo de cigarro. Lógico, tem a boa roska e vinho vez em quando que não sou santa (nem quero!). Além de tudo, não perco meu humor assim à toa.

Sempre ouvi que a chegada dos trinta anos muda a cabeça de uma mulher. Ainda tá cedo pra constatar, faz um mês agora. A verdade é que fisicamente me sinto bem desde muito antes. Tenho tido uns piripaques vez em quando, mas acontecem quando estico demais. É maneira que o organismo tem pra me pedir uma parada nos boxes.

Tudo bem, deve estar pensando: “exatamente do quê essa magrela tá reclamando?”. Sempre oscilando entre 48 e 50 kilos, medindo 1,62 e com essa cara fresca aparentemente não tenho do que me queixar, né? Errado. Ou melhor, certo. Não me queixo mesmo. E quando a famosa barriguinha despontar, chegou a hora dela, afinal os efeitos do vôlei e demais exercícios praticados na época do colégio não podiam durar pra sempre. Mais estrias? Ótimo. São minhas. Rugas, pés de galinha, cabelos brancos? Venham todos. São parte de mim, parte do que vim acumulando de bom e de melhor por toda vida. São o registro de minha história!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O Brasil tomando wXo

Quase quatro anos depois ando revendo minha graduação. Jornalista de formação, procurei e entrei no curso apaixonada pela idéia de informar da melhor maneira a sociedade que me rodeia. Tudo bem que antes da metade do curso, cai de amores pelo lado gráfico da informação, mas isso não mudaria o fato: era comunicação que eu queria pro resto da vida.

Escrevendo, propriamente, nunca trabalhei para redações. Aquela pressão (vinda de todos os lados), até hoje, me parece muito pouco produtiva. Obviamente publico textos de quando em vez para cadernos especiais, mas jornalismo diário, até agora, não me dá tesão algum. Já diagramei jornais semanais mas, mesmo esses, tenho um tempinho pra pensar sempre a melhor forma de apresentar o produto.

Entretanto, assistir os noticiários é quase um ritual. Vejo todos e quase ao mesmo tempo (o que deixa, por exemplo, a minha mãe louca!). Fico zapeando entre os canais com horários iguais. Alguns, têm reprise programada para logo mais. Presto atenção em tudo: entonação de acordo com a notícia, postura, quem é o âncora, se conheço os repórteres, colocações pertinentes, o que é notícia pra um e não é pro outro. Eu até mando email pros colegas, como não!

E é justo por essas observações que vou me identificando cada vez mais com o chamado jornalismo gráfico (isso é a diagramação com nome bonitinho!). De uns tempos pra cá, a gente sente até o cheiro do sangue na tela, na caixa de som, no papel, nos monitores, enfim. Às vezes me cansa tanta miséria, violência, corrupção. Entendo que a questão não tenha cunho exclusivamente jornalístico, afinal, é preciso relatar o que está aí.

Acompanhei semana passada o caso de Jorge Kauã. Sabe quem é? Aliás, a pergunta correta é sabe quem era? Ou pior, sabe quem poderia ter sido? O garoto, 4 anos, morreu com um tiro no peito, atingiu o coração. A mãe tentava escapar com ele e outro filho. Contava que traficantes invadiram a casa e não permitiram que saíssem. De repente, ela se viu no meio do fogo cruzado entre bandidos e polícia. O menino engorda as estatísticas da violência desenfreada no Rio de Janeiro. O destaque da noite era o jogo, em casa, da seleção brasileira.

E acho que é bem aí que o caldo engrossa. Onde exatamente nós (profissionais de comunicação) perdemos a droga do sentimento a ponto de prestar mais atenção na camisa do técnico? Nada contra a seleção, aliás, percebo no futebol um ópio necessário (e efetivo) quando tudo aqui parece estar a um passo de explodir. A boa e velha tática do pão e circo. Não sei é até quando vai funcionar.

Acho que dificilmente teria estrutura psicológica pra dar dia após dia esse mesmo tipo de notícia. E mais ainda, a nós jornalistas, é cobrada a importante e impossível tarefa da IMPARCIALIDADE. Já diria meu professor Sérgio Augusto Mattos, é mito! É humanamente impraticável não se tomar partido de coisa alguma. A coisa toda piora quando vidas estão em jogo!

Falei do Rio porque está na crista da onda, mas nossa Salvador, outros tempos cantada em verso e prosa por sua tranqüilidade, também amarga as estatísticas aumentadas quando se fala de violência. Não sei qual a relação da imprensa e sociedade nos outros países. Não sei se mudar o canal é medida suficiente. Às vezes parece que tudo que está ao meu alcance como, telespectadora, é desligar a tv.

Como jornalista, não sei. A indignação é pulsante! Confesso, no entanto, que nem sei por onde começaria. Um primeiro passo é urgente. A jornalista que dorme aqui cobra algo pra deitar a cabeça no travesseiro à noite (ou dia) convicta que as tarefas foram realizadas da melhor maneira possível sem ferir nem prejudicar a ninguém, muito menos a si própria. A cidadã que está de olhos abertos, cobra da jornalista, de seus colegas e qualquer outra pessoa, no mínimo a repulsa a tanto descaso!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Possibilidades ao redor

Dia desses ainda desenvolvo uma tese baseada em minha própria filosofia: A DAS POSSIBILIDADES. A possibilidade de ser e fazer pra si e para outros. Confuso? É que são duas da manhã! Deixa ver se explico melhor: conhecer lugares e pessoas nos dá a possibilidade de ser e fazer alguém feliz. Não estou falando somente de relacionamentos a dois (disso também), mas quaisquer relações.

Parece difícil, mas a aplicação não é complicada: a cada pessoa que a gente vê pela primeira vez e, obviamente, pinta aquela energia gostosa, passemos a vê-la como mais uma chance de estarmos bem, fazendo bem a essa figura, estranha há uns cinco minutos. Pergunte a hora. Comece o papo. Escute a reclamação do trânsito. Reclame do metrô(dê mais uma alfinetada nessa lenda urbana). Sei lá, use a imaginação!

E as cidades novas? Que delícia é andar por onde nunca estivemos e descobrir novos sabores, cheiros, cores e, por que não, novos problemas. Isso me lembra quando morei em São Paulo. Um dia desci num ponto longe do de costume só pra andar por aquela rua próxima à Nove de Julho. Caminhei. Vi muita gente morando sob uns viadutos. Havia uma rua feia e estreita. Voltei, mas só porque já era hora de estar em casa. Comentando com a figura com quem morava, descobri que era uma baita bocada. Ainda bem que os anjos protegem os inocentes! De qualquer forma ali também havia a possibilidade (sabe Jah que possibilidade!).

E as pessoas de nosso convívio? Com os que já são amigos as chances são muitas. Seus afazeres, suas vidas. Daremos a eles a chance de curtir de nossa cara com a goleada que o time levou. Também vamos tirar aquele sarro porque alguém esqueceu o aniversário da mulher e dormiu no sofá por dois dias (sempre tem um desses). E quando toca aquela canção que vocês costumavam ouvir anos atrás? Se você tiver o CD ouçam juntos novamente e depois o empreste. Isso é bacana.

Conhecer um professor que vai acompanhar seus trabalhos (quase) pro resto da vida e você sabe que pode sempre incomodar ligando no celular à noite, por exemplo. Eis uma possibilidade importante! Acredito que deva ser significativo para um educador saber que tem participação na atuação profissional de alguém.

Parar quinze minutos de trabalhar quando o sobrinho te convida pra assistir Pica-Pau (ainda que isso represente quarenta minutos de seu tempo de produção pra ver desenho reprisado). Aquela risada gostosa, que só o frescor dos cinco anos pode trazer, faz grande diferença no fim do dia. A gente também pode se divertir quando esse mesmo sobrinho pretende repor o dente, extraído um dia antes, porque descobriu que ficou difícil mastigar.

Então, não é fácil fazer rir e ser motivo de riso? Numa boa e sem crises. E, pra quem acredita em boas vibrações feito eu, seguindo essa filosofia as possibilidades são sempre boas. Ao menos, ainda não identifiquei o contrário. Não lembro de ter lido autores de auto-ajuda, mas as coisas simples são perceptíveis mesmo. Executar pode ser interessante, se permita essa possibilidade!

sábado, 13 de outubro de 2007

Um homem pra chamar de meu

Eu acho é graça. Vira e mexe meus amigos querem me juntar a alguém. Umas dizem que tô ficando sem assunto. Não sei falar de surpresas em dia de namorados, jantares especiais, promoção de fraldas, passeios infantis. Veja só, que cobrança! Outros reclamam que só falo em palestras, pesquisas, artigos, referências bibliográficas!

Ora, pois. Não que não queira. Mas não vou me enforcar um pé de coentro a cada relação que não dá certo. Enquanto isso, vou cuidando de aperfeiçoar meus conhecimentos. E é justo aí que mora o problema. De uns tempos pra cá apareceram um tanto de pesquisas afirmando que quanto mais elas estudam, mais eles correm. Nada animador, não?! E eu preparando mais um projeto de mestrado. Acho que dessa vez sai.

Existe um outro lado dessas pesquisas, as mulheres vão sentindo cada vez menos falta. Outro aspecto igualmente infeliz. Se todos esses dados estatísticos forem fiéis, posso concluir que estamos criando cabeções solteiras de saias em massa! Jah! Existe o risco real da extinção da espécie. Real porque se todas essas cabeções forem feito eu, jamais vão deixar de estudar pra satisfazer o ego inseguro masculino. Tudo bem, não vamos generalizar, dá pra contar nos dedos!

Lembro um amigo, em São Paulo, que certa feita sugeriu: “Rai, pára de estudar, pô! Os caras têm medo!”. Achei aquilo o pior dos absurdos. Depois até me confessou que era só pra chatear. O fato é que depois de boas cabeçadas a gente vai se fechando. Me parece um processo natural de auto-defesa. Não faço o gênero “antes mal acompanhada do que só”. Creio mesmo que as coisas devam primar pela qualidade.

Tenho curtido uns momentos muito bacanas sozinha. E, como a cara-de-pau mora aqui, a cada show que vou, por exemplo, puxo papo com outras pessoas também desacompanhadas, digamos. Quando me dou conta, pronto, virou uma festa! Tem um momento – não sei exatamente onde – que a gente pára de correr. Cansa do jogo, é certo, mas fica mais tranqüila.

Também tem uma etapa em que o relógio biológico apita feito louco, eu sei. Na minha idade, mãe já tinha a todas nós (somos três). Se começar a pensar em queda de fertilidade, hormônios e todo o resto concluo que é uma grande sacanagem da natureza pra gente se sentir culpada em meter a cara nos livros.

Os tempos são outros. Me conforta saber que existem algumas mulheres estudando bastante para que outras – como eu – possam parir lá pros seus 50/60, de maneira saudável. E quando esse dia chegar até já tenho os nomes: Maria Luisa e Cecília Maria. Ah, é... Eu sei que são duas meninas! Não, elas não são gêmeas.

Por enquanto vou curtindo os shows, as palestras, as peças, os cinemas, as viagens. Também vou desfrutando o relógio despreocupado e essa leva de sobrinhos que quando me cansa é só mandar de volta. Sem namorado até pode ser, mas sozinha, nunca!

O grande relógio

Das tantas canções que nos falam sobre o tempo só consigo lembrar Tempo Rei, de Sua Excelência Gil e parte de Oração ao Tempo, de Caetano. Esse tic-tac esquisito que, sem avisar, começa bater desde que somos uma coisinha de nada e vai se somando à medida que crescemos... e lá se vai: tic-tac, tic-tac... Penso nas coisas que abri mão de fazer hoje. Fiz outras. Mas tive a sensação de perder tempo deixando de cumprir as tarefas que havia programado. Ia aproveitar o feriado pra organizar pesquisas, atividades da pós, adiantar trabalho, tudo pra não perder tempo.

Mas que maluquice, não? Como a gente pode perder tempo? Devemos é aproveitá-lo. Por que ele passa, é fato, num implacável tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac. Escuto que Paulo Autran acaba de morrer. Fiquei triste. Lembro aquela maravilhosa cena entre ele e Fernanda Montenegro, na novela Guerra dos Sexos. Achei que tivesse feito mais novelas. Taí alguém que, a meu ver, aproveitou bem o tempo!

Depois de tantas idas e vindas na tv e cinema, sua conhecida paixão pelo teatro, voltou a fazer rádio. E foi onde conheci outra de suas facetas: há uns dois anos, tinha uma coluna - Quadrantes -na qual recitava belíssimos poemas e crônicas brasileiros, na Band News. Show de interpretação em poucos minutos. Sempre concluía sua participação assim: “e vamos ao teatro!”. Mesmo debilitado, aos oitenta e poucos anos, seu entusiasmo era evidente.

Uma das coberturas feitas pelos jornais trazia um depoimento no qual ele falava da morte. Dizia que o mundo seria terrível se as pessoas não pudessem morrer um dia, acabar. Minha mãe concordava. Mas ainda assim fiquei pensando na angústia de nossos velhos ao verem pessoas ao seu redor irem naturalmente partindo umas após as outras... É como se a fila fosse encurtando até chegar sua hora. Realmente
implacável esse tic-tac!

No entanto, analisando com mais frieza, essa não é uma preocupação de nossos velhos somente. Lembro que aos dez anos, perdi uma amiga da mesma idade. Tudo parecia tão esquisito. “Não é a ordem natural das coisas”, diziam alguns. Não sei que ordem é essa. Quem a inventou? Como se calculam esses tic-tacs?

Sobretudo nos dias de hoje, quando você sai e não sabe se volta em função de muitas coisas. Estamos aqui e, já diria Sua Excelência, “tudo agora mesmo pode estar por um segundo...”. Estamos todos muito mudados: homem, ambiente e hoje qualquer fator parece um risco. Quando se poderia imaginar morrer de calor, de frio, de fome, de tanto comer, de comer, jogar pra fora e comer de novo? Tic-tacs adiantados.

Observo minha mãe às vezes. Percebo quanto ela corre pra fazer o melhor pra Gabriel, por exemplo. Parece que tem sempre em mente que pode não acordar. E nessa neura, perde momentos ótimos. Ganha também, felizmente. Estraga bem o menino como toda boa avó.

Parei pra ver o sol se pôr hoje. Tive a impressão que meu tic-tac desacelerou um pouco. Me permiti alterar minha agenda super-hiper-congestionada pra assistir, gostosamente, o tempo passar... E, bem devagar, era até capaz de ouvir a qualidade que dei a meu tempo. Ele agora fazia tiiiiic, tiiiiic, tiiiiic, tiiiiic-tac!

Gandaia do tempo

Essa vidinha de notívaga ainda me acaba. Como não bastasse, agora ainda tenho uma parceira forte: minha irmã. Bota Gabriel pra dormir e fica “comigo na boemia”. Entramos pela madrugada de papo, zapeando a tv, até finalmente encontrarmos uma comédia romântica pra assistir. Nessa brincadeira eram 3 da manhã. Resultado: acordei e fiquei travando aquela velha guerra com o colchão. Enfim, levantei e fiquei pensando em tudo que eu tinha programado pra fazer nesse feriado de dia das crianças.

Dez da manhã e eu nem sabia por onde começar. Fazer um trabalho final da pós (que havia esquecido completamente), terminar a diagramação de um jornal, adiantar a diagramação de uma revista, pensar no projeto gráfico de outra revista (o que implicaria em parar pra ler outras tantas coisas), escrever um projeto de mestrado pra apresentar, lavar roupas, trocar água das flores, limpar o quarto. SOCORRO! Tava quase desejando um clone!

Depois do nescau com pães e otras cocitas más, fui até a área ver quantas cordas eu tinha disponíveis pra secar minhas roupas. Nesse momento, todas aquelas atividades perderam sentido. QUE DIA LINDO! O sol brilhava tão forte que se fosse seguir meus instintos, largaria tudo mais e ia caminhar de algum lugar até + infinito.

Há tempos não tínhamos um dia assim – ao menos, não tinha reparado -, sem nuvens, dia claro. E olha que a previsão pra esse feriadão era de chuva, nuvens carregadas. Sorte a nossa esse serviço meteorológico de ponta (cabeça)! Aliás, fico pensando pra que mesmo tanto investimento nesses tais satélites. Raras são as vezes que a previsão do tempo “dá uma dentro” por aqui, pra nossa felicidade.

Do muro do terceiro pavilhão da casa, tenho vista pra cidade baixa e ilha. Que paisagem! O céu azul, limpo. Temperatura gostosa. Já me imaginava caminhando na praia. Mas, meus trabalhos a fazer... Quero ser pesquisadora, tirar onda de acadêmica, mas, convenhamos, esse sol é covardia!

Acabei não fazendo quase nada do que tinha em mente. Vinha adiando lavar o banheiro. Saindo do quarto, olhei bem pra lá e pensei: nossa, não dá mais pra empurrar com a barriga, não. Botei umas roupas na máquina, outras “de molho”, limpei o quarto. Meu momento de graxeira consolado por aquela espiadinha na janela, vez em quando.

Subir alguns degraus, pendurar as roupas e...? Olhar, mais uma vez, a paisagem. Agora já esperava o cair do sol. Pensei quantos outros (felizes desocupados) poderiam estar comigo nessa saborosa missão. Era o momento da mais pura diplomacia entre o divino e nós, pobres mortais. Obviamente faltava uma trilha sonora. Mp3 em mãos, ouço primeiro uma homenagem a Paulo Autran. Recitava Idéias, um poema de Cecília Meireles.

Enfim, o espetáculo. Aquela grande bola amarela brilhante vai assumindo um tom alaranjado. O céu todo acompanha e do azul de antes, resta o suficiente pra mistura que resulta um lilás... pálido...! Lenine canta, repetidamente, uma de suas poesias em meus ouvidos: Gandaia das Ondas. Um casamento perfeito! O sol desce teimoso. Acho que algum pobre mortal deve ter chegado atrasado.

A batida da música, o lilás vai escurecendo e o sol, agora, é uma meia-bola cor de mel. Quase sinto o perfume. E ouço Lenine dizer: “lua, onde começa e onde terminha o tempo de sonhar?!” Poesia visual, auditiva, quase olfativa. Um dia iluminado como esse merece toda reverência!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Música na veia? Chama o síndico

Já teve aquela vez em que não estava a fim de fazer absolutamente nada? Estive assim por uns dias. E como minha bola anda murcha (ou, de repente, até não) lá em cima, com o Homi, inda apareceu um monte de trabalho pra fazer. Não deu pra escrever, as idéias não vinham. Ao menos, as boas. E assim, na pressão dos trabalhos, comecei dar aqueles famosos loopings, sabe como é? As idéias vêm, sempre as mesmas e quase todas pouco aproveitáveis!!! Resolvi parar e ouvir rádio.

Comecei só com notícias. Mas pra alguém que tá sempre ralando, cheia de coisas a fazer - sem o menor saco -, ouvir como os caras em Brasília “levantam uma graninha”, sem cerimônia, metendo a mão no meu e no seu bolso, não foi de muita serventia. Ainda assim, fiz uso da melhor ferramenta de nosso regime democrático: mudei. Girei o botão.

Meu radinho sintoniza sempre as mesmas cinco emissoras. Tenho alguns horários especiais. São programas de uma ou duas horas, específicos de MPB ou entrevistas e coisas do tipo. Com perfis parecidos, por vezes as rádios passam as mesmas canções. E lá vou eu de novo, exercer minha cidadania: aproveitando computador ligado, escolhi meus mp3.

Ah, o poder da escolha. Agora sim me encontrei. Começo com Ed Motta, Simoninha, Bebel, Vanessa da Mata, Jorge Ben, MonoBloco, Melodia, Ney Matogrosso e Pedro Luis e outras figuras. Já escutou músicas ouvindo?? É pra enfatizar mesmo! Quantas vezes a gente olha e não vê, escuta e não ouve? Quase sempre não prestamos atenção às letras. Nesses momentos descubro e reitero algumas paixões: Martnália, Moska, Negra Li. Tenho aqui uns clássicos de Roberto Carlos, anos 60/70, claro. Letras fortes, um quê de anárquicas. Românticas sem ser muito melosas. Taí, gostei.

Mas, o que não dá pra esconder mesmo é minha total idolatria às poesias de Lenine, Djavan, Vinícius, Toquinho, Tom, Chico Buarque e nosso Ministro/Cantor Gilberto Gil (não exatamente nessa ordem ou seguindo ordem alguma). Sem querer tirar onda de cabeção, menininha papo-cabeça, mas a gente tem o que cantar né não? Tá, tudo bem, Gil quando inventa de fazer seus , leva meia hora do show. Mas afinal, considere que é um de Gilberto Gil! Trata-se de uma firula musical ministerial, ora pois! É mais forte que eu mostrar meu lado elitista quando o assunto é música.

Outro dia abrindo caixas ainda da mudança (êita coisa que não acaba nunca), encontrei uns vinis. Só pérolas! Gravações antigas de Chico Buarque – que, aliás, é o único homem que admito usar bigodes! -, Caymmi e toda sua deliciosa preguiça na voz, Tom, João Bosco. Não faço idéia de como veio parar aqui em casa. Tempos atrás meu tio andou fazendo umas doações. Deve ter vindo no pacote.

Obviamente, o nome do santo não me interessa muito. Milagre feito, passei uma tarde deliciosa. Graças a Jah ainda temos uma radiola (com tanta gente velha por metro quadrado e coisas antigas, uma tralha a mais não faz diferença aqui em casa)! E como diria Melô, num dos cd´s dele que tenho, “música é tão saudável, tão nutritivo!”. Pelo sim, pelo não, cá estou a escrever. Outras matérias também já saíram e umas paginazinhas de jornais também.

E nesse ritmo, só preciso me preocupar com uma coisa: a Polícia Federal. Se confisca meu HD é adeus relax e trabalho também! Já até tenho nome pra essa: Operação Música Na Veia!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Relacionamentos por um fio

- Eu não acredito... Rai?
- Caramba... Quanto tempo!!! Julinho de Adelaide*!!!
- Nossa! Quanto tempo? 10, 15 anos? Você com a mesma cara..!
- Pois é... Contas as novas, por onde você anda rapaz?
- Minha amiga, tanta coisa aconteceu desde aquela última vez. Pior que nem dá pra falar agora. Tô correndo, mas me passa aí seu email, anota meu celular, assim que chegar no escritório te passo uma mensagem. Bom te ver. Beijo.

Se identificou? Pois é, você e a BAMOR inteira. Se duvidar a torcida do Vitória, Galícia e Ypiranga também. E o melhor vem agora: sabe quando aquela mensagem vai chegar? Calma aí, não desanime, às vezes, vem no natal ou ano novo, tá perto. É um fato: Nossos relacionamentos estão por um fio, por uma fibra óptica. A que ponto chegamos? Chega ser cômico quando a gente se pega conversando com nosso colega de trabalho, na mesma sala, via msn. Rai diz: vai almoçar agora?. Colega diz: Não. Ainda tô vendo umas coisas aqui, passando uns emails.

Posso falar com propriedade. Poderia até mesmo inverter as falas do fictício diálogo inicial. A gente consegue descartar a informação de um reencontro desses, um amigo que não se vê há anos, com a mesma velocidade que se clicka enter. E, se porventura, lembramos de enviar a bendita mensagem, é tanta coisa pipocando na tela que simplesmente nos esquecemos da tarefa. Afinal, não estava programada.

Meus amigos de faculdade e especialização não têm essa sorte. Já usava internet e tínhamos (ainda usamos) email de grupos. Por um endereço só todos recebem mensagens. Com a turma da pós, graças a esse recurso, adiamos nossos almoços costumeiros dos sábados algumas vezes. Se estamos sempre nos “falando”, não tem sentido, oras!

Falando em amigos da faculdade que viraram virtuais, tenho um exemplo muito bom. A figura viajou pra Angola e nos “falávamos” muito mais que hoje. Nesse caso o email era até justificável. Eu sei que está bem porque tenho acompanhado ele num telejornal local. Aliás, a última vez que nos falamos, comentei que está mais magro e com bem menos cabelo, me mostrou as fotos do casamento, das viagens em lua-de-mel. Tudo virtualmente, lógico! Ele tem um fotoblog. Ao menos já me deixou um comentário aqui, o cara de pau.

Já o pessoal do segundo grau e alguns do primeiro... Bem, lá pros idos de 1900 e...( hum... não sei se devo dizer..!). Bom, lá pra década de 90, conheci pessoas muito especiais em minha vida. Amigas que tenho contato até hoje e às quais os relacionamentos pularam as paredes da 6ª e 8ª A do Guiomar Muniz Pereira. Obviamente, nem eu, nem as meninas pensavam em celular, pager (opa, esse já foi, né?), email, orkut, msn. Nosso diário era secreto e fechado a chaves! Imagina um blog? Nunca. Aí, de uma dessas criaturas guardei um costume muito gostoso: escrever cartas.

Lu e eu sempre escrevíamos uma pra outra assim, sem motivo. Nos falávamos por telefone absolutamente TODOS OS DIAS. Depois, quando saímos da escola, as correspondências foram ficando mais escassas até virarem o que são hoje: cartas de aniversários e finais de ano. Guardamos nosso velho costume. Até porque ela mudou pra Feira de Santana. Lá se vão uns dez anos que não vejo Lu. Ainda assim, nos enviamos, todo 22 de maio e 26 de setembro, ao menos um cartão. Ainda tem natal e ano novo.

Guardo ainda um bolo de cartas de Lu. É gostoso ler todas elas vez em quando e dar risadas de nossas preocupações de outrora. Recuperação em matemática com o professor Eduardo Roldão causava pânico na sala toda, ave! Eu fiquei todos os anos. Maior freguesa, da quinta à sétima. Era péssima e não melhorei muito, não! Semana passada ela me ligou. Estamos nos modernizando, tá pensando o quê?! Disse que manda a carta depois. Curioso que nunca nos perguntamos sobre nossos endereços virtuais.

O que me questiono é quando as risadas viraram kkk, eheheh ou rsrsrsrs...? Quando nossas expressões de alegria, dor, raiva, tristeza viraram montes de letras e acentos combinados? Em que momento deixamos de nos divertir nos encontros, digamos, reais e preferimos falar com nossos dedos? Transformamos amigos em telinhas, dividimos em grupos e deixamos todos piscando no rodapé ao mesmo tempo. Que maluquice! Nunca consigo “estar” com todos em tempo hábil.

Percebo que a coisa é séria quando os parentes dos amigos me cobram visitas. Pode até não parecer, mas tenho procurado enrolar menos os camaradas. Curto esses momentos e preciso deles. E já que criei coragem e virei blogueira, vou aproveitar o ensejo pra criar a comunidade DESVIRTUALIZE SEU AMIGO JÁ!, que tal? Vamos criar um movimento de invasão na casa dos companheiros finais de semana. Melhor, vamo entrar no meio da semana também pra tirar o atraso. Estou ensaiando umas invasões há um tempinho... Pôxa, não tem nada aqui no teclado em Zé Paulo que represente meus olhinhos piscando.... Aguarde. O próximo pode ser você!

* esse foi o codinome usado por Chico Buarque (amém) em suas letras censuradas pela Ditadura Militar. Mas, que pessoa tirada, não?!

sábado, 29 de setembro de 2007

De volta ao nosso paraíso tropical

Como invejo os autores de novela! Por pior que seja a trama, no fim eles sempre conseguem público fiel. Todas as Helenas boazinhas de Manoel Carlos (e quase carimbadamente as mesmas carinhas de Regina Duarte!) e todos os vilões miseráveis e gananciosos de Gilberto Braga, contaram com uma torcida leal. E quando a assiduidade do público começa meses antes do desfecho, então? É o meu caso. Aliás, é o caso de todo mundo aqui em casa. Faltando pouco pra acabar a gente resolve assistir. E aí é um desespero: toma perguntar quem faz o quê, quando e por quê.

No caso específico de Paraíso Tropical, achei o conto absurdamente nojento no início. Sério. Aquela gana de poder de Olavo. Taís (que sei lá o quê, a tenha!) é gente rúim, rapá! E Evaldo? Como alguém podia ser tão ingênuo! Ana Luisa? Eu sou devagar, mas ela... Pior que foi esse o motivo pelo qual comecei assistir toda noite. Queria saber até onde iam esses e outros personagens de (mais uma vez) Gilberto Braga.

E, então, eis que quase vinte anos depois tínhamos mais um caso tipo Odete Roitman (Essa vi a reprise, mas não suficientemente atenta. Depois os noveleiros de plantão confirmam as contas e o nome).. É de dar os parabéns os autores de paraíso. Mesmo no derradeiro capítulo ainda tinham bala na agulha no quesito mistério. Não foi tão previsível e graças a Deus nos pouparam daqueles montes de barriga e casamentos costumeiros.

Olavo, hein? Tirado a serial killer, um verdadeiro cavalo do cão... ó paí, ó!! Não achei que fosse ele por ser muito óbvio! Mas até ficou interessante toda a motivação. Ivan, coitado, nasceu rico e morreu pobre-menino-rico. Nem tinha entendido porque ele morreu, mas pensando melhor, se ele andava na praia a trama inteira, sem ter grana, imagina e bagaceira? E Gilberto queria mesmo uma lição de moral! Conversinhas hipócritas lançadas ao ventilador.

Falando em coisas lançadas ao ventilador, achei até que tinha batido o dedo sem querer no controle remoto e chamado o canal da TV Câmara. Infelizes semelhanças, coincidências... Sustentada por um Senador, Bebel era uma mulher depondo, tentando explicar contas pagas por lobistas. Lembra alguma coisa? Tive a sensação de já ter visto o filme em algum lugar... Não fossem Pitanga e Denis Carvalho, jurava que tava no canal 53.

Curti o final. Foi bacana apesar das filhas gêmeas de Paula e Daniel (esse pedacinho podia ser retirado). A fuga de Olavo e Jader tornou o desfecho eletrizante e, sem querer ser bairrista, mas já sendo, mostrou, mais uma vez, a competência de Wagner Moura. A dondoquinha da Alice limpando calçada por agredir empregada e Marion vendendo muamba deram um toque de humor. A pena alternativa de Alice, aliás, deu o toque que a gente pode – e deve – consumir não só enlatado americano. Lembrem da top Naomi.

É... the end... Lá se vai mais uma. Sobraram agora as maldades de Bárbara e Toni com Preta na reprise de Da Cor do Pecado, às 14h. Mãe, em férias, assiste todos os dias. Eu vejo vez em quando. Falta muito ainda pra acabar.

Chocolates, amendoim, jujuba e esperança

Essa é pra quem anda de ônibus. Esses tempos de alta do desemprego nos testam a paciência de todos os ângulos. Além de nos qualificarmos e precisarmos ser tolerantes com um mercado que não nos absorve, precisamos ainda ser compreensivos com quem, muitas vezes, não teve a chance de estudar e vende quase tudo em transportes coletivos.

Mas quando digo tudo, não tô exagerando: é chocolate em barras, água, batata frita, balas de chocolate, amendoim com casca (e sem), chicletes sem açúcar, jujuba, paçoca, picolé, pé-de-moleque. Êita. O detalhe é que tudo é delicioso. O merchandising é sempre o mesmo: “Boa tarde senhoras e senhores, desculpem incomodar o silêncio da sua viagem, mas cheguei aqui com as deliciosas balas de chocolate...” e, por aí vai, adequando ao produto. Desce um, entra outro. Menino, velho, mulher, homem.

Outros vendem canivetes, tesourinha japonesa, lapiseira, caneta perfumada com brilho e sem. Mil e uma quinquilharias. Estes estão espalhados quase sempre pela manhã. Produtos de utilidade. Sabe como é, na ida pra entrevista não pode ficar sem caneta. Ou, caso tenha esquecido de aparar as unhas, esses são utensílios importantes pra quem, mais uma vez, vai bater de porta em porta.

Motivações políticas à parte, o caso é que os veículos de comunicação não poupam notícias a respeito do desemprego em Salvador. Não acho que sejam necessários dados estatísticos e não sei das outras capitais, mas é um problema visto a olhos nus.

Creio que nada deva ser pior que perder a dignidade a ponto de pedir ajuda a estranhos. Essa pode ser uma escolha bastante difícil no começo. Imagina? Entrar num ônibus se sujeitar a passageiros com todo tipo de problema a bordo? Uns mais, outros menos.

Uma coisa, entretanto, não se pode contestar: são pessoas que crêem numa melhoria de vida. O pensamento é: “Se ainda não está bom, ao menos tenho duas pernas, dois olhos e dois braços. Não posso é ficar parado.”. Assim me disse uma vez um desses anônimos. A maioria tem mais de dois filhos e por eles se validam quaisquer esforços.

O grande lance é aprender com eles: Ter esperança e batalhar. Tá complicado aí fora, ninguém disse que tava fácil. Mas o velho jeitinho – honesto, é bom enfatizar -, o jogo de cintura que bem conhecemos será sempre nosso aliado. Pensando em meu breve amigo vendedor e tomando o slogan de uma campanha federal: “eu sou brasileiro e não desisto nunca!”


Imagem: Banco de imagens SXC

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tistu, pão com goiabada e Tia Nastácia

“Marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo”. Por muitas vezes eu ouvi esse pedacinho de música pela manhã. Acho que enquanto me arrumava pra escola. Escolinha Dom Pixote. Tão bonitinha, toda azul, com um dom pixote desenhado entre lápis, borrachas e cadernos na parede (acho que era isso). Íamos caminhando. Morávamos perto. No trajeto, a parada estratégica: comprar o lanche. Eu lanchava todas as vezes o delicioso sonho da padaria Fátima na entrada do Engenho Velho. Coberto com pouco açúcar, mas sempre bem recheado com goiabada... Humm...cia! que delcom goiabada.. elicioso xotyeinha elo" que delícia! Tá, confesso que fiel ao mesmo acepipe anos a fio, levei algum tempo sem querer ver sonho em minha frente!

Mas, voltemos à sessão recordar é viver. Depois do nascimento de Gabriel e agora com a chegada de Angélica, é quase inevitável comparar os tempos. E devo constatar, sem a menor sombra de dúvida, que minha infância foi perfeita! Não fui uma criança que aprontava. Bem ao contrário. Era o tipo de menina que deixava de brincar com meus primos pra ler O Menino do Dedo Verde e partituras de piano. Que nojenta! Acabei invertendo o processo. Hoje eu acho massa tomar sorvete e melar o nariz de quem me acompanha.

O fato é que com crianças em casa, a gente acaba prestando mais atenção no que passa na tv, por exemplo. Acho que agora até mudou, mas uns meses atrás, assistindo de novo o Sítio, levei um susto. Na verdade, fiquei muito p. da vida. Mexeram tanta coisa que Lobato deve ter virado 360º no túmulo. Nada contra Dona Benta acessar internet, mas daí botar silhueta na Cuca, foi um pouquinho demais: Aquele jacaré, que junto ao Minotauro, por noites apavorou meu sono e só me deixava ir ao banheiro de galera! A Cuca tava tão gostosa que em vez de pavor ia acabar despertando a libido dos meninos...!

E não foi só isso. Não lembro de outra forma de amor no Sítio que não a fraternal. Não é que Narizinho tava brigando com uma outra menina, disputando um garoto, depois de ter beijado o guri na boca? Eu, hein?! Olha, podem me chamar do que quiserem: atrasada, saudosista. Continuo achando que programação pra criança é pra criança. Curto muito a TVE. Embora, não tenha entendido ressuscitar aquelas aberrações dos Teletubies. E eu nem comecei falar desses desenhos japoneses com sangue escorrendo e poderes com nomes ultra-mega-power-super-estrombólicos.

E como a gente faz, se por uma série de motivos não dá pra sair? Cercamos nossas crianças em “mundinhos quadrados com direito a todas as polegadas” e criamos teleguiados em série. Não importa se tv a cabo ou escolhendo montes de filmes na locadora. Inventar brincadeiras em casa? Os meninos dificilmente têm paciência hoje com algo que não tenha botões. Pra que diabos esses meninos querem celular com câmera, laptop? Eu, hein?! Entendo que às vezes é cômodo mesmo. A gente entrega e larga lá.

Claro que via tv, mas muito pouco. Quase sempre desenho animado. Bem queria que essa gurizada pudesse ver a diversão de escolher a roupa do domingo, quebra-cabeças, andar de trem, jogar gude, brincar com as galinhas e o cachorro no quintal. Mas nada de pitbull, o bom e velho vira-latas! Esperar o avô preparar aquele pãozinho quentinho com goiabada e tomar um suco de frutas (nera poupa não, viu?).

Muito diferente de hoje, não lembro de problemas reais que me impedissem de sair às ruas, mas recordo de mãe sempre por perto, mesmo sendo agente de polícia. Talvez até por isso. Meus tios também estavam conosco muitas vezes incentivando a leitura e nos inserindo no mundo da boa música. Além disso, pra falar a verdade, até o ensino era mais cobrado. Não tinha tempo pra ficar de bobeira!

Me resta ir curtindo os especiais de fim de ano e as Festas Ploc! da vida. Acho que sou a única pessoa da minha idade que chora ouvindo Chico cantar O Caderno. E como se anda é pra frente, vamos seguindo. Eu vou daqui com Gabriel (que completou 5 anos ontem) me ensinando como tirar a legenda dos filmes sem ter que necessariamente parar o DVD.


Imagem: Banco de imagens SXC