segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Alguém viu Amélia aí?!


Organizar, lavar, passar, cozinhar, arrumar, limpar e depois ainda checar se tudo está a contento! Fala aí, a jornada doméstica não é o conjunto de atividades mais injusto que se tem conhecimento? Eu nunca ouvi mulher alguma expressar (nem no seu dia mais louco de TPM): “ah, como eu adoro lavar louça!” ou “a melhor hora do meu sábado é quando pego aquela pilha de roupas pra passar. Me sinto realizada!”. Eu hein! Até pode ter tido alguma (sei lá, tem louco pra tudo), mas, seguramente, não nesse século.

Tenho lido sobre feminismo e movimentos feministas por conta do mestrado. Não sei se (só) por influência de minhas últimas leituras, mas agradeço a Bertha Lutz, Nísia Floresta e outras tantas pioneiras que desde os anos 30 brigam por espaço e igualdade de direitos e abriram os caminhos pra que eu possa escrever hoje. Penso que não é só deixar de cumprir as tais atividades quando possível, mas é uma questão de divisão de tarefas.

Aqui em casa, nosso suporte nas atividades nunca foi uma preocupação de minha mãe, muito menos nossa. Chegando da escola só tínhamos que tomar banho e fazer os exercícios. Quando fomos crescendo e as tarefas aumentando, mãe tinha que falar muitas vezes até uma de nós tomar a iniciativa, afinal não era costume. Até hoje é assim. Lembro que fiz um curso de prendas domésticas numa escola famosa aqui. Isso foi lá pros meus 10 anos, acho (alguém pode imaginar isso?). Eu achava um saco aquelas aulas, aquelas meninas. Os dias de pintura me relaxavam e a farra na cozinha era a parte boa das aulas.

A verdade é que eu odeio trabalhos de casa! Mesmo! De mais a mais não fui criada para isso. De uma família na qual as mulheres são maioria (e os poucos homens são uns paus mandados) sempre ouvi dizer pra me cuidar e estudar antes de tudo. E assim mantenho. Não deixo de escrever, ler ou pesquisar pra lavar banheiro. A menos que precise de inspiração ou esteja fugindo, empurrando um trabalho com a barriga até onde der (então quando achar um texto ruim pode sugerir uma pilha de louça pra lavar).

Para a figura com quem tive um relacionamento próximo ao matrimônio tratei de avisar: “meu filho, eu não sou dona-de-casa!” (nada de letrinhas miúdas no rodapé do contrato). Mas não é que até nisso eu dei sorte? Ele gostava de fazer. Não se incomodava nem com as piadas de nossos amigos. E ainda me dizia que tudo que eu tinha de fazer era manter limpo. Moleza!

Com o final da relação, todas as criaturas que conheci adoravam cozinhar pra mim e até achavam graça dessa minha aversão. Vez em quando eu até fazia uma gracinha, lavando a louça. Não é que eu não saiba onde é minha cozinha. Eu cozinho e muito bem (minha lasanha é MA-RA-VI-LHO-AS. Claro que sem modéstia!! ). O que me chateia é a repetição. Todo dia cansa, igual a tudo na vida!

Os tempos são outros e as atividades triplicaram para qualquer ser humano. Ainda bem que a tecnologia está a nosso favor: lava, seca, aspira, cozinha. Na carona, outra visão da sociedade, dos ditos papéis de cada um. Pesquisas já apontam o aumento de Amélios por aí.

Mesmo assim, o fato é que nós mulheres temos feito muito mais. Dentro ou fora de casa (e graças a Jah com muito mais tesão). E não é ótimo quando aquele projeto finalmente sai da gaveta e ganha asas? Não é bacana ouvir – depois de um tempão de preparo - que seu trabalho ficou legal? Aí dá até vontade de fazer um jantarzinho!

E como não podia deixar de ser, tudo tem um lado b. O aumento da pressão em nossas cabeças era uma questão de lógica. E eis que além de brilhantes jornalistas, advogadas, escritoras, fisioterapeutas, químicas, geólogas, professoras (e lá se vai), à beira de pedir um dia com 25 horas, a gente ainda tem que ser inteligente, bonita, magra, sexy e divertida? A conta dos sutiãs queimados... Ah, o preço dos tempos modernos!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Do pêssego ao maracujá (e sem traumas)

Dia desses minha irmã gritou lá da sala: “aí hein Rainha, já tá hora de começar usar RENEW!”. Eu, pronta e sabiamente respondi que não esquentava com essas coisas e que sempre passo por mais jovem que ela em qualquer situação. A filha da mãe, cara-dura é só um ano mais nova que eu. Bem pouco, podia ter ido dormir sem essa..!

Bem diferente de mim, ela sempre se preocupou com os tais efeitos do tempo. Mas quer saber? Pra que essa correria maluca se a lei da gravidade é certa e líquida? Botox, fios de ouro, levanta daqui, estica dali, tira, põe. Haja dinheiro (e coragem, afinal é um procedimento cirúrgico)! É uma pressão horrorosa! Não entendo o porquê de tanta preocupação, afinal a gente começa envelhecer desde que somos um óvulo invadido por um espermatozóide. E de repente, uns aninhos mais tarde, a coisa toda pode tomar uma proporção sem precedentes.

Já repararam as campanhas das empresas de cosméticos? Os produtos causam verdadeiros milagres. Um simples sabonete, um creme. Usados por algumas semanas eliminam marcas no rosto e mãos. Outro que usado por um período pode trazer, como efeito, um bronzeamento quase natural. Que tipo de droga pode estar contida nessa substância pra causar tal reação química no corpo?!

Eliminar estrias... Que sonho..! Essa eu queria ver. Tenho muitas!! Isso não existe. Atenuá-las, sim é possível. Sem contar os equipamentos que te “poupam” horas de academia. Mas aí, pro resultado ser perfeito, é preciso comprar um gel redutor, um pote não sei de quê, guia de alimentação e mais umas trocentas tralhas. Ora, me deixe! Pagar pra tomar choque, dormir lambuzada e comer só folha!

Não lembro de grandes preocupações com o efeito do tempo. Ao contrário. A partir dos vinte e cinco, acho, comecei ficar ansiosa. Sempre olhei as mechas grisalhas que apareciam nos cabelos de minha mãe e me perguntava quando chegariam as minhas, se iriam ficar daquele jeito tão perfeitas. Namorava cada fio branco que me nascia na cabeleira. Sempre se quebravam depois.

Claro que penso nas marcas de expressão que surgem no meu rosto, mas acho que a saúde deveria ser o principal nessa inquietação toda. Isso venho me cobrando. Não faço exercícios (adoro minha cama!), durmo cedo (nas primeiras horas do dia!), trabalho muito tempo sentada em frente a um computador, minha postura é péssima, quase sempre lembro de comer quando sinto fome (leia-se: quando estou morrendo de fome!). Aliás, falando nisso, adoro comer e não me esquento de bater um bom prato de feijão antes de dormir, não.

Ah, mas peraí, me dêem um desconto. Nem tudo é coisa errada no meu dia. Não sou fã de sanduíches, bolachas recheadas, bombons ou refrigerantes. Como frituras de caju em caju. Não curto muito carne vermelha (êpa, mas não significa dizer que não consuma nunca essas coisas). Se tiver algo a fazer num prédio, até o terceiro andar, subo e desço as escadas (estando de tênis vou até mais longe). Adoro alimentos integrais, frutas e saladas. Tomar café é uma raridade e odeio qualquer tipo de cigarro. Lógico, tem a boa roska e vinho vez em quando que não sou santa (nem quero!). Além de tudo, não perco meu humor assim à toa.

Sempre ouvi que a chegada dos trinta anos muda a cabeça de uma mulher. Ainda tá cedo pra constatar, faz um mês agora. A verdade é que fisicamente me sinto bem desde muito antes. Tenho tido uns piripaques vez em quando, mas acontecem quando estico demais. É maneira que o organismo tem pra me pedir uma parada nos boxes.

Tudo bem, deve estar pensando: “exatamente do quê essa magrela tá reclamando?”. Sempre oscilando entre 48 e 50 kilos, medindo 1,62 e com essa cara fresca aparentemente não tenho do que me queixar, né? Errado. Ou melhor, certo. Não me queixo mesmo. E quando a famosa barriguinha despontar, chegou a hora dela, afinal os efeitos do vôlei e demais exercícios praticados na época do colégio não podiam durar pra sempre. Mais estrias? Ótimo. São minhas. Rugas, pés de galinha, cabelos brancos? Venham todos. São parte de mim, parte do que vim acumulando de bom e de melhor por toda vida. São o registro de minha história!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O Brasil tomando wXo

Quase quatro anos depois ando revendo minha graduação. Jornalista de formação, procurei e entrei no curso apaixonada pela idéia de informar da melhor maneira a sociedade que me rodeia. Tudo bem que antes da metade do curso, cai de amores pelo lado gráfico da informação, mas isso não mudaria o fato: era comunicação que eu queria pro resto da vida.

Escrevendo, propriamente, nunca trabalhei para redações. Aquela pressão (vinda de todos os lados), até hoje, me parece muito pouco produtiva. Obviamente publico textos de quando em vez para cadernos especiais, mas jornalismo diário, até agora, não me dá tesão algum. Já diagramei jornais semanais mas, mesmo esses, tenho um tempinho pra pensar sempre a melhor forma de apresentar o produto.

Entretanto, assistir os noticiários é quase um ritual. Vejo todos e quase ao mesmo tempo (o que deixa, por exemplo, a minha mãe louca!). Fico zapeando entre os canais com horários iguais. Alguns, têm reprise programada para logo mais. Presto atenção em tudo: entonação de acordo com a notícia, postura, quem é o âncora, se conheço os repórteres, colocações pertinentes, o que é notícia pra um e não é pro outro. Eu até mando email pros colegas, como não!

E é justo por essas observações que vou me identificando cada vez mais com o chamado jornalismo gráfico (isso é a diagramação com nome bonitinho!). De uns tempos pra cá, a gente sente até o cheiro do sangue na tela, na caixa de som, no papel, nos monitores, enfim. Às vezes me cansa tanta miséria, violência, corrupção. Entendo que a questão não tenha cunho exclusivamente jornalístico, afinal, é preciso relatar o que está aí.

Acompanhei semana passada o caso de Jorge Kauã. Sabe quem é? Aliás, a pergunta correta é sabe quem era? Ou pior, sabe quem poderia ter sido? O garoto, 4 anos, morreu com um tiro no peito, atingiu o coração. A mãe tentava escapar com ele e outro filho. Contava que traficantes invadiram a casa e não permitiram que saíssem. De repente, ela se viu no meio do fogo cruzado entre bandidos e polícia. O menino engorda as estatísticas da violência desenfreada no Rio de Janeiro. O destaque da noite era o jogo, em casa, da seleção brasileira.

E acho que é bem aí que o caldo engrossa. Onde exatamente nós (profissionais de comunicação) perdemos a droga do sentimento a ponto de prestar mais atenção na camisa do técnico? Nada contra a seleção, aliás, percebo no futebol um ópio necessário (e efetivo) quando tudo aqui parece estar a um passo de explodir. A boa e velha tática do pão e circo. Não sei é até quando vai funcionar.

Acho que dificilmente teria estrutura psicológica pra dar dia após dia esse mesmo tipo de notícia. E mais ainda, a nós jornalistas, é cobrada a importante e impossível tarefa da IMPARCIALIDADE. Já diria meu professor Sérgio Augusto Mattos, é mito! É humanamente impraticável não se tomar partido de coisa alguma. A coisa toda piora quando vidas estão em jogo!

Falei do Rio porque está na crista da onda, mas nossa Salvador, outros tempos cantada em verso e prosa por sua tranqüilidade, também amarga as estatísticas aumentadas quando se fala de violência. Não sei qual a relação da imprensa e sociedade nos outros países. Não sei se mudar o canal é medida suficiente. Às vezes parece que tudo que está ao meu alcance como, telespectadora, é desligar a tv.

Como jornalista, não sei. A indignação é pulsante! Confesso, no entanto, que nem sei por onde começaria. Um primeiro passo é urgente. A jornalista que dorme aqui cobra algo pra deitar a cabeça no travesseiro à noite (ou dia) convicta que as tarefas foram realizadas da melhor maneira possível sem ferir nem prejudicar a ninguém, muito menos a si própria. A cidadã que está de olhos abertos, cobra da jornalista, de seus colegas e qualquer outra pessoa, no mínimo a repulsa a tanto descaso!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Possibilidades ao redor

Dia desses ainda desenvolvo uma tese baseada em minha própria filosofia: A DAS POSSIBILIDADES. A possibilidade de ser e fazer pra si e para outros. Confuso? É que são duas da manhã! Deixa ver se explico melhor: conhecer lugares e pessoas nos dá a possibilidade de ser e fazer alguém feliz. Não estou falando somente de relacionamentos a dois (disso também), mas quaisquer relações.

Parece difícil, mas a aplicação não é complicada: a cada pessoa que a gente vê pela primeira vez e, obviamente, pinta aquela energia gostosa, passemos a vê-la como mais uma chance de estarmos bem, fazendo bem a essa figura, estranha há uns cinco minutos. Pergunte a hora. Comece o papo. Escute a reclamação do trânsito. Reclame do metrô(dê mais uma alfinetada nessa lenda urbana). Sei lá, use a imaginação!

E as cidades novas? Que delícia é andar por onde nunca estivemos e descobrir novos sabores, cheiros, cores e, por que não, novos problemas. Isso me lembra quando morei em São Paulo. Um dia desci num ponto longe do de costume só pra andar por aquela rua próxima à Nove de Julho. Caminhei. Vi muita gente morando sob uns viadutos. Havia uma rua feia e estreita. Voltei, mas só porque já era hora de estar em casa. Comentando com a figura com quem morava, descobri que era uma baita bocada. Ainda bem que os anjos protegem os inocentes! De qualquer forma ali também havia a possibilidade (sabe Jah que possibilidade!).

E as pessoas de nosso convívio? Com os que já são amigos as chances são muitas. Seus afazeres, suas vidas. Daremos a eles a chance de curtir de nossa cara com a goleada que o time levou. Também vamos tirar aquele sarro porque alguém esqueceu o aniversário da mulher e dormiu no sofá por dois dias (sempre tem um desses). E quando toca aquela canção que vocês costumavam ouvir anos atrás? Se você tiver o CD ouçam juntos novamente e depois o empreste. Isso é bacana.

Conhecer um professor que vai acompanhar seus trabalhos (quase) pro resto da vida e você sabe que pode sempre incomodar ligando no celular à noite, por exemplo. Eis uma possibilidade importante! Acredito que deva ser significativo para um educador saber que tem participação na atuação profissional de alguém.

Parar quinze minutos de trabalhar quando o sobrinho te convida pra assistir Pica-Pau (ainda que isso represente quarenta minutos de seu tempo de produção pra ver desenho reprisado). Aquela risada gostosa, que só o frescor dos cinco anos pode trazer, faz grande diferença no fim do dia. A gente também pode se divertir quando esse mesmo sobrinho pretende repor o dente, extraído um dia antes, porque descobriu que ficou difícil mastigar.

Então, não é fácil fazer rir e ser motivo de riso? Numa boa e sem crises. E, pra quem acredita em boas vibrações feito eu, seguindo essa filosofia as possibilidades são sempre boas. Ao menos, ainda não identifiquei o contrário. Não lembro de ter lido autores de auto-ajuda, mas as coisas simples são perceptíveis mesmo. Executar pode ser interessante, se permita essa possibilidade!

sábado, 13 de outubro de 2007

Um homem pra chamar de meu

Eu acho é graça. Vira e mexe meus amigos querem me juntar a alguém. Umas dizem que tô ficando sem assunto. Não sei falar de surpresas em dia de namorados, jantares especiais, promoção de fraldas, passeios infantis. Veja só, que cobrança! Outros reclamam que só falo em palestras, pesquisas, artigos, referências bibliográficas!

Ora, pois. Não que não queira. Mas não vou me enforcar um pé de coentro a cada relação que não dá certo. Enquanto isso, vou cuidando de aperfeiçoar meus conhecimentos. E é justo aí que mora o problema. De uns tempos pra cá apareceram um tanto de pesquisas afirmando que quanto mais elas estudam, mais eles correm. Nada animador, não?! E eu preparando mais um projeto de mestrado. Acho que dessa vez sai.

Existe um outro lado dessas pesquisas, as mulheres vão sentindo cada vez menos falta. Outro aspecto igualmente infeliz. Se todos esses dados estatísticos forem fiéis, posso concluir que estamos criando cabeções solteiras de saias em massa! Jah! Existe o risco real da extinção da espécie. Real porque se todas essas cabeções forem feito eu, jamais vão deixar de estudar pra satisfazer o ego inseguro masculino. Tudo bem, não vamos generalizar, dá pra contar nos dedos!

Lembro um amigo, em São Paulo, que certa feita sugeriu: “Rai, pára de estudar, pô! Os caras têm medo!”. Achei aquilo o pior dos absurdos. Depois até me confessou que era só pra chatear. O fato é que depois de boas cabeçadas a gente vai se fechando. Me parece um processo natural de auto-defesa. Não faço o gênero “antes mal acompanhada do que só”. Creio mesmo que as coisas devam primar pela qualidade.

Tenho curtido uns momentos muito bacanas sozinha. E, como a cara-de-pau mora aqui, a cada show que vou, por exemplo, puxo papo com outras pessoas também desacompanhadas, digamos. Quando me dou conta, pronto, virou uma festa! Tem um momento – não sei exatamente onde – que a gente pára de correr. Cansa do jogo, é certo, mas fica mais tranqüila.

Também tem uma etapa em que o relógio biológico apita feito louco, eu sei. Na minha idade, mãe já tinha a todas nós (somos três). Se começar a pensar em queda de fertilidade, hormônios e todo o resto concluo que é uma grande sacanagem da natureza pra gente se sentir culpada em meter a cara nos livros.

Os tempos são outros. Me conforta saber que existem algumas mulheres estudando bastante para que outras – como eu – possam parir lá pros seus 50/60, de maneira saudável. E quando esse dia chegar até já tenho os nomes: Maria Luisa e Cecília Maria. Ah, é... Eu sei que são duas meninas! Não, elas não são gêmeas.

Por enquanto vou curtindo os shows, as palestras, as peças, os cinemas, as viagens. Também vou desfrutando o relógio despreocupado e essa leva de sobrinhos que quando me cansa é só mandar de volta. Sem namorado até pode ser, mas sozinha, nunca!

O grande relógio

Das tantas canções que nos falam sobre o tempo só consigo lembrar Tempo Rei, de Sua Excelência Gil e parte de Oração ao Tempo, de Caetano. Esse tic-tac esquisito que, sem avisar, começa bater desde que somos uma coisinha de nada e vai se somando à medida que crescemos... e lá se vai: tic-tac, tic-tac... Penso nas coisas que abri mão de fazer hoje. Fiz outras. Mas tive a sensação de perder tempo deixando de cumprir as tarefas que havia programado. Ia aproveitar o feriado pra organizar pesquisas, atividades da pós, adiantar trabalho, tudo pra não perder tempo.

Mas que maluquice, não? Como a gente pode perder tempo? Devemos é aproveitá-lo. Por que ele passa, é fato, num implacável tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac. Escuto que Paulo Autran acaba de morrer. Fiquei triste. Lembro aquela maravilhosa cena entre ele e Fernanda Montenegro, na novela Guerra dos Sexos. Achei que tivesse feito mais novelas. Taí alguém que, a meu ver, aproveitou bem o tempo!

Depois de tantas idas e vindas na tv e cinema, sua conhecida paixão pelo teatro, voltou a fazer rádio. E foi onde conheci outra de suas facetas: há uns dois anos, tinha uma coluna - Quadrantes -na qual recitava belíssimos poemas e crônicas brasileiros, na Band News. Show de interpretação em poucos minutos. Sempre concluía sua participação assim: “e vamos ao teatro!”. Mesmo debilitado, aos oitenta e poucos anos, seu entusiasmo era evidente.

Uma das coberturas feitas pelos jornais trazia um depoimento no qual ele falava da morte. Dizia que o mundo seria terrível se as pessoas não pudessem morrer um dia, acabar. Minha mãe concordava. Mas ainda assim fiquei pensando na angústia de nossos velhos ao verem pessoas ao seu redor irem naturalmente partindo umas após as outras... É como se a fila fosse encurtando até chegar sua hora. Realmente
implacável esse tic-tac!

No entanto, analisando com mais frieza, essa não é uma preocupação de nossos velhos somente. Lembro que aos dez anos, perdi uma amiga da mesma idade. Tudo parecia tão esquisito. “Não é a ordem natural das coisas”, diziam alguns. Não sei que ordem é essa. Quem a inventou? Como se calculam esses tic-tacs?

Sobretudo nos dias de hoje, quando você sai e não sabe se volta em função de muitas coisas. Estamos aqui e, já diria Sua Excelência, “tudo agora mesmo pode estar por um segundo...”. Estamos todos muito mudados: homem, ambiente e hoje qualquer fator parece um risco. Quando se poderia imaginar morrer de calor, de frio, de fome, de tanto comer, de comer, jogar pra fora e comer de novo? Tic-tacs adiantados.

Observo minha mãe às vezes. Percebo quanto ela corre pra fazer o melhor pra Gabriel, por exemplo. Parece que tem sempre em mente que pode não acordar. E nessa neura, perde momentos ótimos. Ganha também, felizmente. Estraga bem o menino como toda boa avó.

Parei pra ver o sol se pôr hoje. Tive a impressão que meu tic-tac desacelerou um pouco. Me permiti alterar minha agenda super-hiper-congestionada pra assistir, gostosamente, o tempo passar... E, bem devagar, era até capaz de ouvir a qualidade que dei a meu tempo. Ele agora fazia tiiiiic, tiiiiic, tiiiiic, tiiiiic-tac!

Gandaia do tempo

Essa vidinha de notívaga ainda me acaba. Como não bastasse, agora ainda tenho uma parceira forte: minha irmã. Bota Gabriel pra dormir e fica “comigo na boemia”. Entramos pela madrugada de papo, zapeando a tv, até finalmente encontrarmos uma comédia romântica pra assistir. Nessa brincadeira eram 3 da manhã. Resultado: acordei e fiquei travando aquela velha guerra com o colchão. Enfim, levantei e fiquei pensando em tudo que eu tinha programado pra fazer nesse feriado de dia das crianças.

Dez da manhã e eu nem sabia por onde começar. Fazer um trabalho final da pós (que havia esquecido completamente), terminar a diagramação de um jornal, adiantar a diagramação de uma revista, pensar no projeto gráfico de outra revista (o que implicaria em parar pra ler outras tantas coisas), escrever um projeto de mestrado pra apresentar, lavar roupas, trocar água das flores, limpar o quarto. SOCORRO! Tava quase desejando um clone!

Depois do nescau com pães e otras cocitas más, fui até a área ver quantas cordas eu tinha disponíveis pra secar minhas roupas. Nesse momento, todas aquelas atividades perderam sentido. QUE DIA LINDO! O sol brilhava tão forte que se fosse seguir meus instintos, largaria tudo mais e ia caminhar de algum lugar até + infinito.

Há tempos não tínhamos um dia assim – ao menos, não tinha reparado -, sem nuvens, dia claro. E olha que a previsão pra esse feriadão era de chuva, nuvens carregadas. Sorte a nossa esse serviço meteorológico de ponta (cabeça)! Aliás, fico pensando pra que mesmo tanto investimento nesses tais satélites. Raras são as vezes que a previsão do tempo “dá uma dentro” por aqui, pra nossa felicidade.

Do muro do terceiro pavilhão da casa, tenho vista pra cidade baixa e ilha. Que paisagem! O céu azul, limpo. Temperatura gostosa. Já me imaginava caminhando na praia. Mas, meus trabalhos a fazer... Quero ser pesquisadora, tirar onda de acadêmica, mas, convenhamos, esse sol é covardia!

Acabei não fazendo quase nada do que tinha em mente. Vinha adiando lavar o banheiro. Saindo do quarto, olhei bem pra lá e pensei: nossa, não dá mais pra empurrar com a barriga, não. Botei umas roupas na máquina, outras “de molho”, limpei o quarto. Meu momento de graxeira consolado por aquela espiadinha na janela, vez em quando.

Subir alguns degraus, pendurar as roupas e...? Olhar, mais uma vez, a paisagem. Agora já esperava o cair do sol. Pensei quantos outros (felizes desocupados) poderiam estar comigo nessa saborosa missão. Era o momento da mais pura diplomacia entre o divino e nós, pobres mortais. Obviamente faltava uma trilha sonora. Mp3 em mãos, ouço primeiro uma homenagem a Paulo Autran. Recitava Idéias, um poema de Cecília Meireles.

Enfim, o espetáculo. Aquela grande bola amarela brilhante vai assumindo um tom alaranjado. O céu todo acompanha e do azul de antes, resta o suficiente pra mistura que resulta um lilás... pálido...! Lenine canta, repetidamente, uma de suas poesias em meus ouvidos: Gandaia das Ondas. Um casamento perfeito! O sol desce teimoso. Acho que algum pobre mortal deve ter chegado atrasado.

A batida da música, o lilás vai escurecendo e o sol, agora, é uma meia-bola cor de mel. Quase sinto o perfume. E ouço Lenine dizer: “lua, onde começa e onde terminha o tempo de sonhar?!” Poesia visual, auditiva, quase olfativa. Um dia iluminado como esse merece toda reverência!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Música na veia? Chama o síndico

Já teve aquela vez em que não estava a fim de fazer absolutamente nada? Estive assim por uns dias. E como minha bola anda murcha (ou, de repente, até não) lá em cima, com o Homi, inda apareceu um monte de trabalho pra fazer. Não deu pra escrever, as idéias não vinham. Ao menos, as boas. E assim, na pressão dos trabalhos, comecei dar aqueles famosos loopings, sabe como é? As idéias vêm, sempre as mesmas e quase todas pouco aproveitáveis!!! Resolvi parar e ouvir rádio.

Comecei só com notícias. Mas pra alguém que tá sempre ralando, cheia de coisas a fazer - sem o menor saco -, ouvir como os caras em Brasília “levantam uma graninha”, sem cerimônia, metendo a mão no meu e no seu bolso, não foi de muita serventia. Ainda assim, fiz uso da melhor ferramenta de nosso regime democrático: mudei. Girei o botão.

Meu radinho sintoniza sempre as mesmas cinco emissoras. Tenho alguns horários especiais. São programas de uma ou duas horas, específicos de MPB ou entrevistas e coisas do tipo. Com perfis parecidos, por vezes as rádios passam as mesmas canções. E lá vou eu de novo, exercer minha cidadania: aproveitando computador ligado, escolhi meus mp3.

Ah, o poder da escolha. Agora sim me encontrei. Começo com Ed Motta, Simoninha, Bebel, Vanessa da Mata, Jorge Ben, MonoBloco, Melodia, Ney Matogrosso e Pedro Luis e outras figuras. Já escutou músicas ouvindo?? É pra enfatizar mesmo! Quantas vezes a gente olha e não vê, escuta e não ouve? Quase sempre não prestamos atenção às letras. Nesses momentos descubro e reitero algumas paixões: Martnália, Moska, Negra Li. Tenho aqui uns clássicos de Roberto Carlos, anos 60/70, claro. Letras fortes, um quê de anárquicas. Românticas sem ser muito melosas. Taí, gostei.

Mas, o que não dá pra esconder mesmo é minha total idolatria às poesias de Lenine, Djavan, Vinícius, Toquinho, Tom, Chico Buarque e nosso Ministro/Cantor Gilberto Gil (não exatamente nessa ordem ou seguindo ordem alguma). Sem querer tirar onda de cabeção, menininha papo-cabeça, mas a gente tem o que cantar né não? Tá, tudo bem, Gil quando inventa de fazer seus , leva meia hora do show. Mas afinal, considere que é um de Gilberto Gil! Trata-se de uma firula musical ministerial, ora pois! É mais forte que eu mostrar meu lado elitista quando o assunto é música.

Outro dia abrindo caixas ainda da mudança (êita coisa que não acaba nunca), encontrei uns vinis. Só pérolas! Gravações antigas de Chico Buarque – que, aliás, é o único homem que admito usar bigodes! -, Caymmi e toda sua deliciosa preguiça na voz, Tom, João Bosco. Não faço idéia de como veio parar aqui em casa. Tempos atrás meu tio andou fazendo umas doações. Deve ter vindo no pacote.

Obviamente, o nome do santo não me interessa muito. Milagre feito, passei uma tarde deliciosa. Graças a Jah ainda temos uma radiola (com tanta gente velha por metro quadrado e coisas antigas, uma tralha a mais não faz diferença aqui em casa)! E como diria Melô, num dos cd´s dele que tenho, “música é tão saudável, tão nutritivo!”. Pelo sim, pelo não, cá estou a escrever. Outras matérias também já saíram e umas paginazinhas de jornais também.

E nesse ritmo, só preciso me preocupar com uma coisa: a Polícia Federal. Se confisca meu HD é adeus relax e trabalho também! Já até tenho nome pra essa: Operação Música Na Veia!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Relacionamentos por um fio

- Eu não acredito... Rai?
- Caramba... Quanto tempo!!! Julinho de Adelaide*!!!
- Nossa! Quanto tempo? 10, 15 anos? Você com a mesma cara..!
- Pois é... Contas as novas, por onde você anda rapaz?
- Minha amiga, tanta coisa aconteceu desde aquela última vez. Pior que nem dá pra falar agora. Tô correndo, mas me passa aí seu email, anota meu celular, assim que chegar no escritório te passo uma mensagem. Bom te ver. Beijo.

Se identificou? Pois é, você e a BAMOR inteira. Se duvidar a torcida do Vitória, Galícia e Ypiranga também. E o melhor vem agora: sabe quando aquela mensagem vai chegar? Calma aí, não desanime, às vezes, vem no natal ou ano novo, tá perto. É um fato: Nossos relacionamentos estão por um fio, por uma fibra óptica. A que ponto chegamos? Chega ser cômico quando a gente se pega conversando com nosso colega de trabalho, na mesma sala, via msn. Rai diz: vai almoçar agora?. Colega diz: Não. Ainda tô vendo umas coisas aqui, passando uns emails.

Posso falar com propriedade. Poderia até mesmo inverter as falas do fictício diálogo inicial. A gente consegue descartar a informação de um reencontro desses, um amigo que não se vê há anos, com a mesma velocidade que se clicka enter. E, se porventura, lembramos de enviar a bendita mensagem, é tanta coisa pipocando na tela que simplesmente nos esquecemos da tarefa. Afinal, não estava programada.

Meus amigos de faculdade e especialização não têm essa sorte. Já usava internet e tínhamos (ainda usamos) email de grupos. Por um endereço só todos recebem mensagens. Com a turma da pós, graças a esse recurso, adiamos nossos almoços costumeiros dos sábados algumas vezes. Se estamos sempre nos “falando”, não tem sentido, oras!

Falando em amigos da faculdade que viraram virtuais, tenho um exemplo muito bom. A figura viajou pra Angola e nos “falávamos” muito mais que hoje. Nesse caso o email era até justificável. Eu sei que está bem porque tenho acompanhado ele num telejornal local. Aliás, a última vez que nos falamos, comentei que está mais magro e com bem menos cabelo, me mostrou as fotos do casamento, das viagens em lua-de-mel. Tudo virtualmente, lógico! Ele tem um fotoblog. Ao menos já me deixou um comentário aqui, o cara de pau.

Já o pessoal do segundo grau e alguns do primeiro... Bem, lá pros idos de 1900 e...( hum... não sei se devo dizer..!). Bom, lá pra década de 90, conheci pessoas muito especiais em minha vida. Amigas que tenho contato até hoje e às quais os relacionamentos pularam as paredes da 6ª e 8ª A do Guiomar Muniz Pereira. Obviamente, nem eu, nem as meninas pensavam em celular, pager (opa, esse já foi, né?), email, orkut, msn. Nosso diário era secreto e fechado a chaves! Imagina um blog? Nunca. Aí, de uma dessas criaturas guardei um costume muito gostoso: escrever cartas.

Lu e eu sempre escrevíamos uma pra outra assim, sem motivo. Nos falávamos por telefone absolutamente TODOS OS DIAS. Depois, quando saímos da escola, as correspondências foram ficando mais escassas até virarem o que são hoje: cartas de aniversários e finais de ano. Guardamos nosso velho costume. Até porque ela mudou pra Feira de Santana. Lá se vão uns dez anos que não vejo Lu. Ainda assim, nos enviamos, todo 22 de maio e 26 de setembro, ao menos um cartão. Ainda tem natal e ano novo.

Guardo ainda um bolo de cartas de Lu. É gostoso ler todas elas vez em quando e dar risadas de nossas preocupações de outrora. Recuperação em matemática com o professor Eduardo Roldão causava pânico na sala toda, ave! Eu fiquei todos os anos. Maior freguesa, da quinta à sétima. Era péssima e não melhorei muito, não! Semana passada ela me ligou. Estamos nos modernizando, tá pensando o quê?! Disse que manda a carta depois. Curioso que nunca nos perguntamos sobre nossos endereços virtuais.

O que me questiono é quando as risadas viraram kkk, eheheh ou rsrsrsrs...? Quando nossas expressões de alegria, dor, raiva, tristeza viraram montes de letras e acentos combinados? Em que momento deixamos de nos divertir nos encontros, digamos, reais e preferimos falar com nossos dedos? Transformamos amigos em telinhas, dividimos em grupos e deixamos todos piscando no rodapé ao mesmo tempo. Que maluquice! Nunca consigo “estar” com todos em tempo hábil.

Percebo que a coisa é séria quando os parentes dos amigos me cobram visitas. Pode até não parecer, mas tenho procurado enrolar menos os camaradas. Curto esses momentos e preciso deles. E já que criei coragem e virei blogueira, vou aproveitar o ensejo pra criar a comunidade DESVIRTUALIZE SEU AMIGO JÁ!, que tal? Vamos criar um movimento de invasão na casa dos companheiros finais de semana. Melhor, vamo entrar no meio da semana também pra tirar o atraso. Estou ensaiando umas invasões há um tempinho... Pôxa, não tem nada aqui no teclado em Zé Paulo que represente meus olhinhos piscando.... Aguarde. O próximo pode ser você!

* esse foi o codinome usado por Chico Buarque (amém) em suas letras censuradas pela Ditadura Militar. Mas, que pessoa tirada, não?!