sábado, 13 de outubro de 2007

Gandaia do tempo

Essa vidinha de notívaga ainda me acaba. Como não bastasse, agora ainda tenho uma parceira forte: minha irmã. Bota Gabriel pra dormir e fica “comigo na boemia”. Entramos pela madrugada de papo, zapeando a tv, até finalmente encontrarmos uma comédia romântica pra assistir. Nessa brincadeira eram 3 da manhã. Resultado: acordei e fiquei travando aquela velha guerra com o colchão. Enfim, levantei e fiquei pensando em tudo que eu tinha programado pra fazer nesse feriado de dia das crianças.

Dez da manhã e eu nem sabia por onde começar. Fazer um trabalho final da pós (que havia esquecido completamente), terminar a diagramação de um jornal, adiantar a diagramação de uma revista, pensar no projeto gráfico de outra revista (o que implicaria em parar pra ler outras tantas coisas), escrever um projeto de mestrado pra apresentar, lavar roupas, trocar água das flores, limpar o quarto. SOCORRO! Tava quase desejando um clone!

Depois do nescau com pães e otras cocitas más, fui até a área ver quantas cordas eu tinha disponíveis pra secar minhas roupas. Nesse momento, todas aquelas atividades perderam sentido. QUE DIA LINDO! O sol brilhava tão forte que se fosse seguir meus instintos, largaria tudo mais e ia caminhar de algum lugar até + infinito.

Há tempos não tínhamos um dia assim – ao menos, não tinha reparado -, sem nuvens, dia claro. E olha que a previsão pra esse feriadão era de chuva, nuvens carregadas. Sorte a nossa esse serviço meteorológico de ponta (cabeça)! Aliás, fico pensando pra que mesmo tanto investimento nesses tais satélites. Raras são as vezes que a previsão do tempo “dá uma dentro” por aqui, pra nossa felicidade.

Do muro do terceiro pavilhão da casa, tenho vista pra cidade baixa e ilha. Que paisagem! O céu azul, limpo. Temperatura gostosa. Já me imaginava caminhando na praia. Mas, meus trabalhos a fazer... Quero ser pesquisadora, tirar onda de acadêmica, mas, convenhamos, esse sol é covardia!

Acabei não fazendo quase nada do que tinha em mente. Vinha adiando lavar o banheiro. Saindo do quarto, olhei bem pra lá e pensei: nossa, não dá mais pra empurrar com a barriga, não. Botei umas roupas na máquina, outras “de molho”, limpei o quarto. Meu momento de graxeira consolado por aquela espiadinha na janela, vez em quando.

Subir alguns degraus, pendurar as roupas e...? Olhar, mais uma vez, a paisagem. Agora já esperava o cair do sol. Pensei quantos outros (felizes desocupados) poderiam estar comigo nessa saborosa missão. Era o momento da mais pura diplomacia entre o divino e nós, pobres mortais. Obviamente faltava uma trilha sonora. Mp3 em mãos, ouço primeiro uma homenagem a Paulo Autran. Recitava Idéias, um poema de Cecília Meireles.

Enfim, o espetáculo. Aquela grande bola amarela brilhante vai assumindo um tom alaranjado. O céu todo acompanha e do azul de antes, resta o suficiente pra mistura que resulta um lilás... pálido...! Lenine canta, repetidamente, uma de suas poesias em meus ouvidos: Gandaia das Ondas. Um casamento perfeito! O sol desce teimoso. Acho que algum pobre mortal deve ter chegado atrasado.

A batida da música, o lilás vai escurecendo e o sol, agora, é uma meia-bola cor de mel. Quase sinto o perfume. E ouço Lenine dizer: “lua, onde começa e onde terminha o tempo de sonhar?!” Poesia visual, auditiva, quase olfativa. Um dia iluminado como esse merece toda reverência!

Um comentário:

Anônimo disse...

ADOREEEEEEEEEI !!!