terça-feira, 2 de outubro de 2007

Relacionamentos por um fio

- Eu não acredito... Rai?
- Caramba... Quanto tempo!!! Julinho de Adelaide*!!!
- Nossa! Quanto tempo? 10, 15 anos? Você com a mesma cara..!
- Pois é... Contas as novas, por onde você anda rapaz?
- Minha amiga, tanta coisa aconteceu desde aquela última vez. Pior que nem dá pra falar agora. Tô correndo, mas me passa aí seu email, anota meu celular, assim que chegar no escritório te passo uma mensagem. Bom te ver. Beijo.

Se identificou? Pois é, você e a BAMOR inteira. Se duvidar a torcida do Vitória, Galícia e Ypiranga também. E o melhor vem agora: sabe quando aquela mensagem vai chegar? Calma aí, não desanime, às vezes, vem no natal ou ano novo, tá perto. É um fato: Nossos relacionamentos estão por um fio, por uma fibra óptica. A que ponto chegamos? Chega ser cômico quando a gente se pega conversando com nosso colega de trabalho, na mesma sala, via msn. Rai diz: vai almoçar agora?. Colega diz: Não. Ainda tô vendo umas coisas aqui, passando uns emails.

Posso falar com propriedade. Poderia até mesmo inverter as falas do fictício diálogo inicial. A gente consegue descartar a informação de um reencontro desses, um amigo que não se vê há anos, com a mesma velocidade que se clicka enter. E, se porventura, lembramos de enviar a bendita mensagem, é tanta coisa pipocando na tela que simplesmente nos esquecemos da tarefa. Afinal, não estava programada.

Meus amigos de faculdade e especialização não têm essa sorte. Já usava internet e tínhamos (ainda usamos) email de grupos. Por um endereço só todos recebem mensagens. Com a turma da pós, graças a esse recurso, adiamos nossos almoços costumeiros dos sábados algumas vezes. Se estamos sempre nos “falando”, não tem sentido, oras!

Falando em amigos da faculdade que viraram virtuais, tenho um exemplo muito bom. A figura viajou pra Angola e nos “falávamos” muito mais que hoje. Nesse caso o email era até justificável. Eu sei que está bem porque tenho acompanhado ele num telejornal local. Aliás, a última vez que nos falamos, comentei que está mais magro e com bem menos cabelo, me mostrou as fotos do casamento, das viagens em lua-de-mel. Tudo virtualmente, lógico! Ele tem um fotoblog. Ao menos já me deixou um comentário aqui, o cara de pau.

Já o pessoal do segundo grau e alguns do primeiro... Bem, lá pros idos de 1900 e...( hum... não sei se devo dizer..!). Bom, lá pra década de 90, conheci pessoas muito especiais em minha vida. Amigas que tenho contato até hoje e às quais os relacionamentos pularam as paredes da 6ª e 8ª A do Guiomar Muniz Pereira. Obviamente, nem eu, nem as meninas pensavam em celular, pager (opa, esse já foi, né?), email, orkut, msn. Nosso diário era secreto e fechado a chaves! Imagina um blog? Nunca. Aí, de uma dessas criaturas guardei um costume muito gostoso: escrever cartas.

Lu e eu sempre escrevíamos uma pra outra assim, sem motivo. Nos falávamos por telefone absolutamente TODOS OS DIAS. Depois, quando saímos da escola, as correspondências foram ficando mais escassas até virarem o que são hoje: cartas de aniversários e finais de ano. Guardamos nosso velho costume. Até porque ela mudou pra Feira de Santana. Lá se vão uns dez anos que não vejo Lu. Ainda assim, nos enviamos, todo 22 de maio e 26 de setembro, ao menos um cartão. Ainda tem natal e ano novo.

Guardo ainda um bolo de cartas de Lu. É gostoso ler todas elas vez em quando e dar risadas de nossas preocupações de outrora. Recuperação em matemática com o professor Eduardo Roldão causava pânico na sala toda, ave! Eu fiquei todos os anos. Maior freguesa, da quinta à sétima. Era péssima e não melhorei muito, não! Semana passada ela me ligou. Estamos nos modernizando, tá pensando o quê?! Disse que manda a carta depois. Curioso que nunca nos perguntamos sobre nossos endereços virtuais.

O que me questiono é quando as risadas viraram kkk, eheheh ou rsrsrsrs...? Quando nossas expressões de alegria, dor, raiva, tristeza viraram montes de letras e acentos combinados? Em que momento deixamos de nos divertir nos encontros, digamos, reais e preferimos falar com nossos dedos? Transformamos amigos em telinhas, dividimos em grupos e deixamos todos piscando no rodapé ao mesmo tempo. Que maluquice! Nunca consigo “estar” com todos em tempo hábil.

Percebo que a coisa é séria quando os parentes dos amigos me cobram visitas. Pode até não parecer, mas tenho procurado enrolar menos os camaradas. Curto esses momentos e preciso deles. E já que criei coragem e virei blogueira, vou aproveitar o ensejo pra criar a comunidade DESVIRTUALIZE SEU AMIGO JÁ!, que tal? Vamos criar um movimento de invasão na casa dos companheiros finais de semana. Melhor, vamo entrar no meio da semana também pra tirar o atraso. Estou ensaiando umas invasões há um tempinho... Pôxa, não tem nada aqui no teclado em Zé Paulo que represente meus olhinhos piscando.... Aguarde. O próximo pode ser você!

* esse foi o codinome usado por Chico Buarque (amém) em suas letras censuradas pela Ditadura Militar. Mas, que pessoa tirada, não?!

2 comentários:

Anônimo disse...

O amigo oculto da última mensagem da caríssima Rai sou eu!! rsrsrs... mas agora posso me considerar redimido das minhas falhas como "amigo por um fio"... Espero que na quinta o grande encontro aconteça, né? Tem que desencantar!! beijos...do amigo Badaró.

Guto disse...

Estando eu no outro lado do atlantico nao posso te culpar por nao nos falarmos o tanto quanto gostaria. Mas tambem penso: sera que estariamos nos encontrando sempre se eu estivesse ai? Nao sei se ja te falei mas sempre temo que meus amigos se tornem estranhos com o passar do tempo sem contato. Afinal todo mundo muda.
Gostei da ideia da comunidade. Nao me importaria de ter minha casa invadida por vc. Te adoro e sinto muito a sua falta.

Um beijissimo.