quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A vaquinha indo pro brejo

Queria entender essa falta de cuidado com o próximo algumas vezes. Me consola saber que algumas pessoas – e aí, me incluo em parte – ainda contrariam as estatísticas das personas non gratas. Umas coisinhas aparentemente simples, lá na frente, representam muito. Ensino Gabriel, Angélica e até minhas irmãs a guardar em jornal cacos de vidro, por exemplo. As latas abertas devem ter aquela parte do corte dobrada para dentro e também embaladas em jornal. O pensamento é simples: infelizmente ainda tem muita gente revirando lixo. Sem contar que nem sempre os catadores estão devidamente protegidos. O que ainda não consegui foi implantar a tal da coleta seletiva.

De quando em quando me sinto vivendo uma trama de novela. Já se sentiu assim? É espionagem industrial daqui, sabotagem de lá, homicídios com motivos banais, total inversão de valores. Coisas que dão sentido a ditos populares do tipo farinha pouca, meu pirão primeiro. Na última semana fomos surpreendidos com as fraudes no sagrado leite nosso de cada dia. Casos de queijo reembalados em função da data de vencimento também vieram na carona.

Que loucura é colocar vidas em risco desse modo! Por mais que as autoridades digam que a quantidade de substâncias proibidas (esse conceito é ótimo, não?!) não representa perigo à saúde. Mas a essas alturas, quem acredita nisso? Tudo isso no sudeste (Minas e São Paulo, respectivamente). Até onde se pode ir por dinheiro? Por aqui, dizem não ter encontrado nada e a toda hora sai nos noticiários a ação dos fiscais. O fato é que o consumo de leite e derivados caiu bastante em uma semana.

Na contramão desses lances um episódio aconteceu comigo. Ontem passei a tarde pesquisando no Instituto Geográfico. Pegando jornais mais velhos que eu. Estão em pastas pesadas e enormes. Com todo respeito, folheava páginas de A Tarde da década de 70. Numa dessas respeitosas manobras senti o pescoço. Que dor pavorosa! Não conseguia virar a cabeça normalmente pro lado direito. Desisti de continuar a pesquisa. E também já ia encerrar o expediente mesmo. Caminhei mais devagar que o costumeiro. Subi no ônibus. Logo quando sentei, botei a mão no pescoço e tentei virar de leve. Havia uma senhora sentada atrás de mim e se ofereceu pra massagear. Quase não vi quem era.

A cara de espanto das pessoas me fez pensar na falta de responsabilidade com o próximo. Em algum momento em nosso cotidiano esse descuido passou ser considerado normal. E assim vamos com tudo que nos cerca: as matas, a água, os animais. Já imaginou com que cara vai explicar pro seu neto que a baleia que ele vê no livro só existe ali?! Virou uma figura porque acabou.


Tudo bem, eu sei que corremos o risco de uma neurose. Mas acho que até se aplica. Se não, vejamos: essas modificações climáticas que trazem esse calor excessivo, derretimento de geleiras, a escassez de água potável - já é fato consumado - etc. A todos esses fatos pode se creditar a falta de cuidado com o outro, com o que nos cerca. Nos resta agora tentar correr contra o tempo pra salvar o que ainda é possível.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que o que torna cada vez mais nossa sociedade desse jeito, absolutamente egoísta, é mesmo o capitalismo e a forma como as pessoas enxergam o consumo. O ter e poder mexem muito com a cabeça das pessoas em níveis preocupantes, mas isso acontece com a grande maioria da população. Pobres, classe média e ricos. As pessoas querem vencer, garantir o seu, já que o mundo está tão concorrido e só os melhores sobreviverão a corrida para o sucesso!! Até onde isso vai parar? Que tipo de sociedade é a nossa? Essa história do leite, como a história da gasolina adulterada, é a clássica máxima do brasileiro: LEI DE GERSON! Levar vantagem em tudo, nem que isso signifique passar por cima dos outros. É o que fazem esses empresários... a eles o meu desprezo e o meu asco.

Juca Badaró