quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Rezando a cartilha

Acompanhando essa confusão de cartão corporativo e outras coisinhas que insistem em se manter nos noticiários, fiquei pensando nos ensinamentos de Dona Nilzete (minha mãe) desde que era menina pequena lá na Cardeal da Silva, no Rio Vermelho: “isso não é seu, leve de volta!” ou ainda “quem te deu isso?! Por quê?!”. Ah, tinha um bem pior: “não quero que ache! Leve de volta!”. Esse vinha, quase sempre, acompanhado de um beliscão ou tapinha. Nos tempos de colégio, virava mexia aparecia um coleguinha se vangloriando por ter encontrado uma carteira com dinheiro, dinheiro no chão ou caneta esquecida na cadeira no final da aula. Que troféu idiota!!

Será que é mesmo tão complicado assim não usufruir do que não é seu?! Será que somente minha mãe e minhas tias bisbilhotavam nossas mochilas quando chegávamos em casa? Em se tratando de nossos presidentes de grêmio estudantil, líderes de comunidade, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes (oxalá não tenha esquecido nenhuma esfera!), por que é tão fácil meter a mão no dinheiro público? Em alguns desses casos, por que não consideram o que ganham suficiente?

Ainda semana passada acho, ouvi um comentário de Boechat. Relatava alguém que dizia ser fácil porque o dinheiro público não tinha dono. Mas que absurdo é esse? Como assim o dinheiro público não tem dono?! Tem sim e é muita gente! Pertence a todos nós que, deveríamos ter revertido em melhorias diversas, os impostos pagos sem escolha!

Tudo bem, não sou 100% politicamente correta. Confesso que furei a fila do ferry-boat, voltando pra Salvador no início de 2007. Ainda estava em Mar Grande e tinha até 15h pra mandar um jornal pra gráfica. Era quase 11h da manhã, minha prima tava na fila, me chamou e eu entrei mesmo! Mas foi só (pelo menos, não lembro de outra). Se querem saber, fiquei carregando essa culpa por semanas!

Haja olhos e ouvidos pra tantos escândalos e mentiras contadas descaradamente (ou sem o menor pudor mesmo). Fico pensando onde é o fundo desse poço! Aliás, cada vez que penso nisso, me dá menos vontade de sair em outubro, naquela costumeira confusão de domingo, pra votar. Não entro nessa de dizer que o mérito é todo desse governo que aí está, isso é injusto. A brincadeira não começou agora. Tampouco o isento!

Se a gente lembrar das aulas de história do Brasil (mas, as verdadeiras, aquelas ensinadas só no segundo grau), dá pra entender que é uma prática herdada de nossos colonizadores: afinal, pareceu tão fácil chegar aqui e se abastecer com o que havia de bom e melhor de nossas riquezas! Por essas e outras não entendo essa comemoração da vinda da família portuguesa para nossas terras. Como se aqui tivessem chegado de bom grado, ora pois... Fugidos, era a melhor opção que dispunham, segundo historiadores.

Não vou por a culpa toda em nossos primos. Afinal, condescendentemente aceito que eles revejam a atuação de dois séculos passados e, seguindo um desses acordos de cooperação, banquem meu mestrado em Lisboa, daqui uns dois anos. É uma vaga que não terei receio algum em concorrer. Calma aí, não tô puxando o tapete de nenhum lusitano não e, cá pra nós, será um ótimo investimento de nosso governo federal!

3 comentários:

Anônimo disse...

"Não quero que ache nada" faltou a duplicação da negativa para enfatizar a proibição. Valeu! Quem vive achando o que não perdeu, pode perder o que deve procurar: a dignidade.

Anônimo disse...

Essa também tenho que comentar. Nem sei se vale a pena gastar tempo e saliva para fazer vocês entenderem que esse discurso só serve a eles, os mesmos, os que nos tratam como otários e vivem escrachando a gente. Como se falcatrua, roubalheira, trambicagem fossem qualidades exclusivamente nossas, de nós brasileiros, especialmente os nordestinos, considerados por eles subespécie humana mestiça – burra, trambiqueira e preguiçosa!

A grande maioria dos brasileiros, e especialmente os nordestinos, Raí, são como você, como eu. Cresceram ouvindo a voz e seguindo as mãos das dona Nilzete da vida! E justo por isso somos tratados como otários! E somos desestimulados a exercer nossa cidadania através do voto. Voto de filhos das Dona Nilzete são perigosos. Melhor mesmo são os votos dos filhos da p., os que se vendem por qualquer quentosréis.

Oposição é importante em qualquer democracia. Mas para ser oposição forte, consistente, é preciso ter propostas, programas alternativos. Para ser oposição pra valer corre-se risco de perder financiadores, mexe-se com interesses nem sempre lícitos... Ser oposição exige trabalho, muito trabalho sério. É o que nossa democracia ainda não tem. O que temos é uma oposição sem projeto que se pauta em escândalos para se promover. E, claro, não existe melhor fonte de escândalo que o governo. Qualquer governo, especialmente em tempos de eleições. Desnecessário listar exemplos de primeiro mundo!

E nós aqui, de “otários agendados”. Em vez de exigir programas, projetos, marcos regulatórios etc. etc. etc. Em vez de discutir a Amazônia, transgênicos, matriz energética etc. etc. etc. ficamos discutindo quantos milhões cabem numa cueca, que comeu quem, quem gastou e quanto gastou com quê... E corremos para a banca de jornal para avaliar se a zinha era uma boa comida, se valeu a perda do cargo e os milhões que ganhou! Nós merece!

E ainda tem aqueles que mandam e-mails pedindo para boicotar os postos da Petrobrás visando baixar o preço da gasolina. Só os da Petrobrás. Shell, Esso, Texaco ficam de fora! Sequer sabem que o preço da gasolina no Brasil está atrelado por força de lei aos preços do petróleo no mercado externo. Adivinhem onde teria saído essa brilhante idéia? Necessariamente de uma cabeça “brilhante”, pêagádesada na Sorbonne. Isso mesmo – FHC. Agora, tente derrubar essa lei com essa oposição que temos aqui!

Respeito ignorância. Mas burrice pretenciosa... Me poupe!

Anônimo disse...

P.S. Vocês sabiam que ontem, 19/02, houve audiência pública no Senado para discutir a medida provisória do executivo regulamentando a tal TV pública? Duro é ouvir a discursaria e a cara de pau da dita oposição – infelizmente apoiada por Pedro Simon (que triste é a senilidade!!!) – chiando por ter que legislar através de MPs e cinicamente ressaltando que a TV pública é constitucional. Só não dizem que a TV pública está na Constituição desde 1988 esperando regulamentação. E onde é que eles, oposição hoje e situação ontem, estavam? Na certa correndo atrás de malas, cuecas e cartões! E ainda chiam quando o Executivo - que tem que executar as leis - corre atrás para legislar sobre fatos que já estão instalados na sociedade. Dai-me paciência, senhor!