sábado, 8 de março de 2008

Mães com (muito) açúcar

Tive uma surpresa pra curtir durante o final da semana. Uma saudosa surpresa, diria. Meu tio mandou umas fotos antigas da família. Em pelo menos duas estou no colo da minha avó. Faço sempre questão de reverenciá-la e dizer com todo gosto e orgulho que sou menina criada com vó. E, sinceramente, sinto que o mundo seria muito mais feliz se as pessoas fossem criadas por suas avós, ao menos, passassem um bom tempo com elas!

Voltei no tempo. Nossa casa ficava nos fundos da casa de meus avós e como mãe trabalhava o dia todo (e todo dia) ficávamos com vovó Du e vozinho - seu Nelson – a maior parte do tempo. Acordar, trocar a roupa e subir. Assim começava nosso dia. Chegando à casa de minha avó, tomávamos banho e depois o café. Nescau pra Déa e eu e café pra Iza (e ainda tinha que ser igual ao do meu avô: com pouco leite, por vezes preto).

Barriguinhas cheias, acompanhávamos meu avô nos afazeres no quintal: alimentar e soltar as galinhas, recolher os ovos e limpar para venda, pegar as bananas, mamão e abacate do alto das árvores. Quer dizer, esperar vozinho trazer lá de cima. Ele nunca deixava a gente subir. Sabe como é, isso era coisa pra homem!

Na frente da casa havia um estranho pinheiro. Estranho porque normalmente esse tipo de árvore tem galhos finos e segue para cima. Ah, mas não a da minha avó! Até isso era especial: seus galhos eram espessos. A gente se pendurava neles (quando ninguém estava olhando, claro!). A árvore crescia para os lados e se desdobrava até a casa do vizinho! Os frutos sempre doces e imensos. A impressão que tenho, hoje, é que dava fruto o ano todo. Não lembro de outra forma de ver aquela árvore, a não ser carregadinha...

Ver novamente o rosto de minha avó me emocionou bastante, afinal lá se vão mais de duas décadas de sua partida, perto do natal de 85. Lembro da comoção de toda família: minha mãe, minhas tias, meus tios por muito tempo guardaram luto carregado de silêncio e dor (sentimentos que transpassavam a mente e o corpo físico, era uma dor na alma). A nós, netos, a alegria perdida dos domingos, o nó na garganta e o olhar perdido para aquela poltrona sempre ali, do lado da porta.

Tempos depois, saber que dormia e sorria na hora da passagem, deu um sentimento esquisito de alívio, muito embora nada dito ou feito consolasse a nós todos! Por muito tempo mantivemos o velho costume de nos reunirmos na casa (agora) de vozinho! Era a maneira de não descuidarmos dele também. Em 1999, vozinho também se foi. A casa ficou fechada muitos anos.

Quase cinco anos depois minhas tias mudaram-se pra lá. Pra parte de cima da casa, onde antes brincávamos. Ainda havia uma escada que dava passagem pra parte de baixo, onde viveram meus avós. Foi difícil olhar pra baixo. Não consegui descer. Era impossível desfazer aquele nó em minha garganta. Voltei pro papo com minhas tias e primas e nunca mais voltei.

Sempre que estou triste ou me sentindo perdida, sonho com aquela casa e meus avós. É como sentisse a proteção de ambos dizendo que as coisas se encaminham. Por vezes fico pensando se ela ia gostar do que sou hoje, do que me tornei. Acho que sim. Nossa ligação é muito forte. De mais a mais se tivesse indo num caminho que não a agradasse, vovó me diria!!!

É gostoso sentir essa saudade. E aqui esclareço que estou saudosista, mas não melancólica. Devo a dona Durvanita, até hoje, me curar com chás e mingaus e não com remédios (isso só em caso extremo). Não tomar água gelada, não ficar descalça (bom, o clima mudou bastante e eu acompanhei. Vez em quando o pé no chão refresca!). Agradeço, sobretudo, a vovó ser uma pessoa absolutamente tranqüila e feliz, coisa de quem experimentou ser amado incondicionalmente!

Tio Antonio, obrigada pelas fotos e por trazer de volta lembranças de um tempo muito feliz, embora, como sempre, não tivesse me dado conta!

2 comentários:

Anônimo disse...

seu blog tá cada vez mais gostoso. q emoçao. q texto! vc é boa nisso. sabe q durante os dias na casa de meus pais andava acompanhando QUERIDOS AMIGOS e eu tava curtindo. bjao. ate domingo...

Anônimo disse...

Ah, que delícia de saudosismo, hein amiga!! Muito bom o texto,viu? Bem escrito, emotivo e sincero. Você tá cada dia melhor... um beijão, do amigo Badaró.