sábado, 15 de março de 2008

Um verdadeiro faroeste caboclo

Essa semana parei pra assistir uma matéria feita por Amigo Badaró. Tratava-se de um crime acontecido em Santo Amaro da Purificação, cidade do recôncavo baiano. Um homem cometeu um duplo homicídio e ao que tudo indica uma seqüência fútil motivou o delito: um jogo de bola, muito bate-boca, ânimos exaltados e uma espingarda. Como saldo, dois homens mortos e uma comunidade revoltada. O autor (apresentado à polícia dias depois do crime) alegou legítima defesa, os demais presentes deram início a um quebra-quebra na casa do acusado, destruindo tudo que encontraram pela frente.

Sem entrar no mérito da questão sobre a responsabilidade do crime, particularmente considero que a descrença no poder público vai nos conduzindo, aos poucos, àquelas cenas dignas de faroeste. Se a polícia ou a justiça demora ou não age, agimos nós, sem julgamentos, ou pior, seguindo nosso próprio parecer. Ontem, voltando quase em êxtase do show de Lenine, me dei conta de nossa reação em alguns acontecimentos. Um garoto foi impedido de subir no ônibus por outro rapaz que estava completamente embriagado. Passa, não passa, muito barulho e um homem gritou lá da “cozinha”: “deixa o rapaz passar, vá! Por que você não quer deixar ele passar, hein?!”. Pronto. Confusão armada e o tirado a justiceiro levantou, puxou o “encachaçado” pelo colarinho fazendo ele girar a catraca.

Já do lado de cá do torniquete, o justiceiro se apresentou como policial, ameaçou levar pra delegacia e, depois de muito barulho dos que queriam chegar logo em casa, ainda fez menção de dar uns catiripapos na figura. Em 20 minutos todo mundo queria dar uns cascudos no cara, que, mesmo bêbado, de besta nada tinha. Desceu assim que o motorista abriu a porta.

Esse olho por olho me assusta. Se a violência continuar tão descontrolada e todo mundo resolver agir com as próprias mãos, já pensaram nas possibilidades? Quer dizer, incomodou, a gente bate. Não que ache que a justiça aqui trabalha de modo perfeito e eficaz. O sangue (meio espanhol de minha avó materna e o africano da paterna) esquenta em algumas situações. Acho que a justiça da cadeia é muito mais eficiente no trato de estupradores, por exemplo. Não é que concorde, mas que funciona, funciona. Enquanto nada muda na sala de justiça, o melhor ainda é usar o bom senso.

Um comentário:

Anônimo disse...
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