segunda-feira, 22 de junho de 2009

Instinto materno: Ponto de interrogação

Há uma semana, assistindo noticiário nacional da Record, uma matéria especial chamou atenção. Era uma matéria local, realizada aqui em Salvador, mas foi o conteúdo que me despertou: mães de aluguel. Existe espaço em sites de relacionamento nos quais todo o processo é negociado.

A reportagem simulou uma transação. A mãe de aluguel dizia não querer contato algum com a criança, nem com os pais, vínculo algum. E disse mais: já havia feito “o serviço” e exigia metade do pagamento antes e a outra após o parto. Despesas médicas eram por conta do cliente. Desprendida, avisou ainda que se a segunda parte do pagamento não fosse efetuada seria “obrigada” a matar o bebê. Alegava não querer a criança porque já tinha um filho. Confesso que fiquei impressionada à primeira vista.

Analisando friamente depois, com a informação já digerida, pensei no desespero que deve ser o badalar do relógio biológico para algumas mulheres a ponto de se sujeitarem a esse tipo de comércio. A que ponto! Maternidade se tornou um comércio como outro qualquer. Da mesma forma que você pode alugar um galpão para guardar carros, um salão de festas para diversão, agora também uma barriga.

Sem julgamentos, pensei também no desespero de quem se propõe a “atividade”. Uma gravidez mexe, altera tudo na mulher. Na melhor das hipóteses, o funcionamento de seu organismo. Está sujeita a complicações no processo, a morrer no parto, ainda que faça regularmente seus exames, os imprevistos não estão descartados. É uma maneira de ganhar dinheiro quando esgotadas todas as outras?

Especialistas citados na reportagem dizem que o procedimento é permitido entre mulheres da mesma família até certo grau de parentesco – que não vou lembrar agora se primeiro ou segundo – embora não haja legislação específica a respeito.


No fundo vejo essa como mais uma das loucuras de nossos tempos. Tempos modernos nos quais deixamos o sonho – que persegue 8 a cada 10 de nós – de ser mãe cada vez mais pra frente, empurradas por um mercado de trabalho acirrado e corrosivo. Um ambiente que, seguidas vezes, nos imprime a sensação de incapacidade, seja por não poder cuidar de modo decente dos filhos que temos, seja por não poder gerar os filhos que desejamos.

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