sábado, 3 de março de 2012

O povo mais antigo do mundo

Matéria especial sobre o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Preparado por mim para o Instituto Integro, onde faço assessoria de imprensa. Foi revigorante escrever e me envolver.
Uma forma diferente de lembrar a data, estabelecida pela ONU há sete anos, é apresentando a Sociedade Israelita da Bahia. Aqui, segundo a Confederação Israelita do Brasil, se estabeleceram os primeiros judeus, ainda no período colonial. 
Meus agradecimentos especiais a minha mestra Matilde Schnitman, primeira judia que conheci e a quem sempre recorro - e não me canso - aos ensinamentos!


No meio da movimentada Joana Angélica, próximo ao Fórum Rui Barbosa, uma casa pintada de azul e branco é logo identificada por trazer a chamada “Estrela de David” na entrada. Assim que adentro, impossível não ver a placa que, em outros idiomas além do Hebraico, lembra os aproximadamente 6.000.000 de judeus assassinados no Holocausto – incluindo 1.500.000 crianças – representando um terço do povo judeu naquela época.

O Rabino Ari Oliszewski, que é também Diretor Comunitário da SIB, me contextualiza nos números: São aproximadamente 15 milhões de judeus no mundo. “É o povo mais antigo e também o mais castigado”, afirma. Me fala ainda das influências judaicas no Brasil, sobretudo no Nordeste. Cita palavras presentes em nosso vocabulário como Ceará, que em hebraico quer dizer vento muito forte, característica do estado nordestino ou ainda Amazônia, que vem do termo Mazón, que hebraico significa comida, elemento farto na região.

Para o Rabino é importante fazer a ligação entre as religiões e, por isso, sempre que possível a SIB promove encontros com os vários líderes espirituais na capital baiana. Afirmou que a Sociedade quase sempre se mantém fechada em suas atividades por uma questão de segurança. “O povo judeu, ainda hoje, é um povo muito perseguido. Os atentados terroristas ocorrem e os culpados não são castigados, então nossa sociedade se mantém fechada em todos os lugares.”, explica o líder espiritual.

Ele faz uma crítica às coberturas jornalísticas que atribuem ao povo israelense uma conotação de crueldade: “Israel não faz guerra santa. Não existe esse conceito em nossa cultura ou religião. Os confrontos na Faixa de Gaza, por exemplo, quando crianças acabam sendo vitimadas por tropas israelenses logo viram destaque. Mas ninguém se pergunta o que crianças estavam fazendo ali, na região de conflito, jogando pedra em soldados israelenses. Nós não atacamos, nos defendemos. Nossas baixas, geralmente, ficam abaixo das dos terroristas que utilizam mulheres e menores como escudos. Em guerras e conflitos nossas crianças e mulheres são colocadas atrás dos soldados, são levadas para longe. Cuidamos de nossa população. Essa é a diferença! A mídia não coloca isso, é triste.”, esclarece.

Trabalhando para melhorar o universo a toda hora
Apesar de tudo isso os judeus também são conhecidos por sua alegria e histórias de superação constantes. “A ideia fundamental do Judaísmo é melhorar o mundo”, assegura o Rabino. Segundo dados, Israel investe muito em energia solar, por exemplo, com engenheiros na vanguarda desse tipo de tecnologia. Suas empresas trabalham em projetos ao redor de todo o planeta. Mais de 90% dos lares israelitas utilizam energia solar para esquentar a água, o que dá uma economia de 8% em seu consumo de energia anual.

Israel também está em primeiro lugar entre os países do Oriente Médio no Índice de Desenvolvimento Humano, publicado pela ONU, além de ser considerado pelo FMI uma das 34 economias avançadas do mundo e o país mais avançado da região em termos de regulamentações empresariais e competição econômica.

A educação é assunto muito sério em Israel. Sua população é chamada de “o povo do livro”. Tem a maior esperança de vida escolar do sudoeste da Ásia estando empatado com o Japão na segunda maior esperança de vida escolar do continente asiático. O primeiro lugar é da Coréia do Sul. O país também tem a maior taxa de alfabetização do sudoeste asiático, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas e o ensino é obrigatório para crianças na faixa etária entre três e dezoito. A escolarização é dividida em três níveis - da escola primária (séries 1/6), escola média (séries 7/9) e ensino médio (séries 10/12) - terminando com uma série de exames de matrícula em várias matérias. As notas nestes exames constam no diploma nacional padronizado - o diploma Bagrut. Proficiência em temas fundamentais como matemática, bíblia, hebraico, literatura hebraica e geral, inglês, história, educação cívica e uma matéria eletiva é necessária para receber um certificado Bagrut.

As oito universidades públicas de Israel são subsidiadas pelo Estado. A Universidade Hebraica de Jerusalém, a mais antiga universidade de Israel, e a Biblioteca Nacional de Israel, possuem o maior repositório de livros sobre temas judaicos. A Universidade Hebraica foi classificada entre as 100 melhores universidades do mundo pelo prestigioso ranking acadêmico ARWU. Em um levantamento mais recente, de 2009, esta mesma universidade foi classificada na posição 64ª no mundo (e quarta na região da Ásia e do Oceano Pacífico).

Outras grandes universidades do país incluem o Technion, o Instituto Weizmann da Ciência, Universidade de Tel Aviv, Universidade Bar-Ilan, a Universidade de Haifa, e Universidade Ben-Gurion do Negev. As sete universidades de pesquisa de Israel (com exceção da Universidade Aberta) foram classificadas entre as 500 melhores do mundo. Israel ocupa terceira posição no mundo em número de cidadãos que possuem diplomas universitários (20% da população).

Com índices tão positivos não é difícil encontrar a razão para a quantidade de Prêmio Nobel recebido por israelenses, de acordo com o Rabino. Para ilustrar a informação ele abre uma relação de invenções presentes em nosso cotidiano e afirma que seus criadores são todos judeus: “o microship da Intel, o pendrive, o jeans, a vacina da penicilina e poliomielite, sistema de rio artificial, sistema de irrigação artificial em condomínios. Todos os seus inventores são judeus, mas o mundo desconhece isso. Além do mais, temos muitos Prêmios Nobel da Paz, da Literatura”, assegura. Apresentou também uma lista de celebridades que seguem (ou seguiam) o Judaísmo: Wood Allen, Barbara Streisand, Jerry Lewis, Steven Spilberg, Ben Stiller, além de Einstein, Freud, Paul Newman, Calvin Klein e, em âmbito local, o governador Jaques Wagner e o radialista Mário Kertész. “A situação de perigo constante fez com que os judeus aprendessem a sobressair sempre”, pontua.

Shoáh
Uma ferida que não se cicatriza. O Rabino Ari explica que a palavra Holocausto não guarda a verdadeira dimensão do que foi o episódio. Traduzido para o Hebraico, o termo quer dizer, sacrifício a Deus e por isso não se encaixa. A palavra que melhor descreve o assassinato de seis milhões de judeus é a Shoáh. “Mas não há tradução para a Shoáh. É Shoáh! Nenhum outro adjetivo pode descrever o que foi aquilo: genocídio, assassinato, matança. É tudo isso e mais!”, finaliza.


Perfil do Rabino Ariel Oliszewski
Argentino, 35 anos. Mora em Salvador desde 2009. É mestrando em Pensamento Judaico e Literatura Talmúdica, em Israel. Possui duas formações: Bíblia e Pensamento Judaico, ambas pela Universidade de Haifa, em Israel. Rabino ordenado tanto pelo Seminário Rabínico Latino Americano, como também pelo Machon Schechter.

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